HUMILDADE, SIMPLICIDADE E O “HUMILHAR-SE
“Bem aventurados
os humildes, pois deles será o reino dos céus” (Mateus 5:3)
“Quem se humilha
será exaltado e quem se exalta será humilhado” (Mateus 23:12)
Durante séculos a humildade tem sido elevada
ao grau máximo entre as virtudes, sobretudo no que diz respeito à cristandade.
Junto dela sobreleva-se, como se sinônimo
fosse, a simplicidade enquanto virtude.
Todavia, o significado que se lhes atribui não
corresponde, na maioria dos casos, ao sentido e significado original de tais
vocábulos.
A humildade é confundida com a parca situação econômica
do ser humano a quem se destina tal alcunha, ou, por outra, á uma postura
servil ou subserviente, para não dizer passiva.
Os textos bíblicos acima tem levado um grande
número de Cristãos a entender que uma vida servil e passiva será recompensada e
que uma Divindade se regozija com a humilhação (no sentido de degradação) de
seus entes criados, e lhes premia por isso com a sua exaltação.
Cumpre dizer que a palavra humildade
significa, em sua, origem e literalidade
“solo fértil” e vem de “húmus”, em sentido estrito, solo sobre nós.
Humus
é aquele sobre solo que, posto pelo
tempo (resto de folhas mortas, corpos, etc.) sobre o terreno, o torna fértil.
Humildade é, pois, a qualidade de estar
aberto, fértil ao recebimento da “semeadura” ou de favorecer a sua
fertilização.
É a notória questão entre a “xícara cheia” e a
“xícara vazia”, entre os chineses, posto que aquele que se encontra com a “xicara
cheia” não permite a introdução de nada mais em seu recipiente.
Assim como diziam os discípulos de
Ramakrishna, “a graça do Senhor é como a chuva que cai sobre todo o vale, mas
só brota e frutifica o solo fértil e semeado”.
Assim, humilde é aquele que se permite a
semeadura e crescimento da vida que lhe outorga a natureza.
O seu oposto é aquele que cultiva o solo árido
e seco, como se bastasse a si próprio, negando-se à vida e ao saber.
Quanto ao termo “simplicidade” ou “simples”,
sua origem está no latim, “simplex”, e quer dizer único, único ou, até mesmo,
ímpar.
É a qualidade daquilo que não é composto, e,
dependendo da conotação, pode até ser um atributo negativo.
Positivamente falando, é aquele que não comporta divisões e se liga, no nosso
entendimento, á integralidade e indivisibilidade da essência, ou seja, do SER.
Resta-nos, ainda, esclarecer que o vocábulo “humilhar”,
em face da raiz etimológica com “humildade” e “húmus”, significa fazer-se humilde.
Se por vezes é dolorido este processo, este se
deve à complexidade de se transformar solo árido e seco em um solo fofo e
fértil, cheio de húmus.
Exaltar, do latim ex, que é um prefixo para
designar “além” ou “acima”, e altar de
altura, quer dizer colocar-se além da própria altura.
Assim, aquele que for humilde, ou seja, que se
permite fertilizar e frutificar, será colocado além da sua própria altura
original e herdará o Reino dos Céus, que, segundo o Senhor Joshua, está dentro
de nós (potencialmente), mas, dinamizado, será a nossa herança.
Em face disso, estará além da sua própria
dimensão humana, para comungar com o Divino.
Entretanto, aquele que se exalta por se
bastar, será feito humilde pelos processos da natureza, para que o seu solo
seja fértil e o que existe em potencial seja dinamizado, quando ultrapassadas
suas estreitas dimensões.
Humildade é questão de consciência.
É questão de PARAR, simplesmente, abrir-se,
simplesmente, VIVER, simplesmente, ao invés de querer, debater-se, impor-se,
desejar, fixar-se e obstinar-se em suas próprias convicções.
É entrar no mundo da real meditação e do
encontro com o SAGRADO, que, encontrando solo fértil, fecunda, desenvolve e se
estabelece na integralidade daquele solo penetrado pelo húmus.
Belíssimo texto!!
ResponderExcluirobrigado
ResponderExcluirO texto me passou o sentido
ResponderExcluirda, humildade do ser simples;o simples leva à humildade e vice versa, penso eu.Me fez lembra a Sagradas Escrituras:Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.” (Mt, 20, 16a).A tolerância leva a humildade:''A primeira lei da natureza é a tolerância — já que temos todos uma porção de erros e fraquezas. (Voltaire)