segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Nômade

capítulo i

quem é o nômade?


                A primeira pergunta a ser feita e a primeira a ser respondida é “Quem é o nômade da nossa história?”

                A resposta poderá parecer estranha à primeira vista, ou melhor, á primeira leitura, mas não há como evitar:

                É você, eu ou qualquer outro ser humano que esteja lendo este modesto escrito.

                É que o ser humano sempre foi um nômade e deve seguir com o seu nomadismo.

                O abandono deste modo de vida tem sérias implicações em nossa vida e no equilíbrio planetário.

                Como pretendo demonstrar ao longo deste texto, o homem tem, em sua natureza, seja física, emocional, mental, ou nomadismo.

                O sedentarismo sempre foi mortal para o homem, em todos os aspectos, assim como tem provocado o desequilíbrio planetário.

                Até mesmo a relação com o Divino, a escolha de um Deus como objeto de culto, o monoteísmo tem como base o nomadismo, ao contrário do politeísmo que está ligado a uma vida sedentária.

                A firmeza de caráter e sua formação, bem como a solidificação cultural, também estão ligadas ao nomadismo.

                É por isso que este texto é dedicado a todos nós humanos, nômades por natureza.

                Meus sinceros votos é que você se sinta como tal, caso contrário que lute para sê-lo.

capítulo ii

a origem do nômade



                Dizem que os antigos primatas viviam nas grandes florestas africanas, nas árvores frondosas, alimentando-se de seus frutos.

                Entretanto, possuindo em seu âmago a centelha divina, alguns decidiram, impelidos pela chama sagrada que os distinguiam de outros seres, investigar o que existia além da floresta.

                Desceram das árvores e seguiram em direção às savanas, enfrentando toda sorte de perigos, conhecendo a dor, o sofrimento, a fome e a morte sob as garras de várias feras.

                É claro que tais fatos não se deram da noite para o dia, mas resultou de milhares de anos de evolução.

                Entretanto, o interessante é que aqueles que optaram em permanecer estagnados nas florestas sofreram a supressão de chispa divina, dando origem aos grandes símios que habitam as matas e os nossos zoológicos.

                Tudo leva a crer que o homem moderno nasceu com o nomadismo e que, portanto, a estagnação gerou a involução de seus irmãos indolentes.

                É importante ressaltar que foi a descida para a savana que impôs ao homem a necessidade de se colocar de pé, para que avistasse com antecipação quaisquer perigos que se aproximassem.

                Aqueles seres primitivos começaram a caminhar pelo planeta, povoando-o em diversas regiões do globo.

                Não se tem notícia de outra espécie que exista em todo o globo de forma tão extensa quanto o ser humano, vencendo intempéries e toda a sorte de adversidades.

                É pelo menos curioso que os animais que habitam o globo não tenham a mesma tendência do homem, ou seja, a de caminhar pela terra espalhando sua semente.

                É preciso que se diga que o presente trabalho não tem por escopo se aprofundar em questões antropológicas, mas apenas indicar a importância deste comportamento nômade para a nossa espécie.

                Além disso, pretendo relaciona-lo com a presença do Divino em nós.


capítulo iii

a importância do nomadismo para o corpo físico


                É notável a descoberta da ciência quanto a importância do exercício físico para o homem moderno.

                Curiosamente, em tempos de um avançado conhecimento tecnológico, o homem se torna obeso, cansado, fisicamente abatido.

                É comum que pessoas ainda jovens tenham problemas circulatórios, cardíacos, excesso de peso, coluna, etc.

                Hoje já é comum em nossas avenidas pessoas caminhando para recuperar ou manter a saúde.

                As academias de ginástica estão lotadas e as dietas fazem cada vez mais sucesso.

                Na maioria absoluta das vezes, tais práticas se fazem com o apoio dos médicos.

                É fácil compreender que o corpo humano foi elaborado para estar em movimento e que a sua estagnação compromete o seu desempenho e manutenção.

                Não é sem razão que as antigas iniciações exigiam um intenso esforço físico, mas sobre isso falaremos mais adiante.

                Todavia, o homem antigo, aquele que precisava empreender longas jornadas em busca de um lugar seguro para repousar, bem como para encontrar alimento e água potável, não sofria de tais males na mesma proporção que o homem moderno.

                É verdade que quando acometido por algum mal (intoxicação, infecção, doenças infecto-contagiosas, etc.), pereciam rapidamente, mas é certo que até algumas gerações passadas o homem, principalmente o jovem, não sofria dos males do mundo moderno.

                Este confronto se faz necessário para demonstrar que o corpo humano vai se deteriorando em face da sua não utilização, ou utilização indevida.

                Se antes o homem morria quando alcançado por causas externas, agora perece em face da mera deterioração pelo desuso.

                Urge, portanto, uma mudança de atitude.

               

capítulo iv

o nomade e o desafio emocional


                O nômade vive cada dia em um lugar e estava sempre pronto para o inesperado.

                Em razão disso convive de forma racional com a sua carga emocional, ou seja, temores, paixões, laços, etc., posto que disso depende a sua sobrevivência e a do seu grupo.

                Ele não pode se apegar às pessoas que encontra, por mais amáveis que sejam; lugares, ainda que aprazíveis e belos; objetos que não lhe são úteis e modos burocratizados ou complexos de vida.

                Qualquer deslize nesse sentido faz com que a vida se torne impraticável para ele.

                Assim suas emoções devem ser equilibradas e controladas, mas não reprimidas.

                Aprende a fazer as suas escolhas e assumir suas conseqüências sem medo.

                Está integrado à natureza, compreendendo e aceitando as suas nuances: Vida e morte, ou seja, o ciclo da vida.

                Sua relação com o Divino está ligada à compreensão da imensidão e do incomensurável e da sua transitoriedade enquanto neste plano.

                A própria inconstância do seu cotidiano lhe demonstra a insensatez de se opor aos fatos da vida.

                A intolerância e rejeição significam ignorância e morte.

                Ele nunca esgota os recursos naturais, pois nunca permanece no mesmo lugar para sempre.

                Ainda que  o faça, a sua retirada de certa área por determinado tempo, permite a recomposição da região, respeitando o meio ambiente naturalmente.

                Não é que ele não ame e não sofra, mas mantém-se de pé quando atingido pela dor, pois deve sempre prosseguir, afinal esta é a razão de sua vida.

                Seus relacionamentos são baseados no afeto mútuo, mas permeados pela racionalização.

                Seus pactos são firmados não só com base na afeição mas também nas afinidades e capacidade de realização conjunta.

                As separações que ocorrem ao longo do caminho, ainda que o atordoem não o impedem de prosseguir, posto que este é o seu dever.

                Assim como Abraão se separou de seu amado sobrinho Lot e prosseguiu rumo ao desconhecido, em busca da Terra Santa, também o nômade moderno manterá a mesma conduta e propósito.

                Afinal, faz parte do jogo da vida, nascimentos e mortes, associações e cisões. Rumos diversos se apresentam para os caminhantes, que nem sempre fazem as mesmas opções.

                Muitas portas existem, mas nem todos passamos pelos mesmos portais.

                Os relacionamentos devem ser marcados por um amor maduro e equilibrado, afeição terna e serena em lugar de paixões avassaladoras que nos prendem a outro objeto de ilusão.

                Todavia, para que perdurem, devemos marca-lo pela renovação de conduta, diariamente, sob  pena de perecimento.

                Muitas vezes saímos em busca de novos relacionamentos, culpando o outro pelo nosso fracasso, quando o que precisamos é de uma atitude renovada, para conosco e com o companheiro.

                Várias vezes manter um relacionamento é sinal de apego, mas, por outro lado, rompe-lo pode ser uma confissão de fracasso e somente mais uma fuga.

               


capítulo iv

o homem sedentário e suas emoções


                        O homem sedentário, ao contrário do nômade, vive às turras com a natureza, a começar com a sua própria.

                        Atendendo ao chamado da matéria, encontra-se estagnado, evitando qualquer coisa que transforme o seu modo de vida.

                        Entretanto, enquanto a natureza da matéria é a inércia, e, portanto, a morte, a natureza do espírito é movimento e, portanto, vida.

                        De tal conflito surge uma gama de emoções desenfreadas e desequilibradas.

                        Seu humor, em regra é mutável, variando do negro, cinza chumbo para a euforia e retornando à melancolia.

                        Apega-se á tudo que existe á sua volta pois o sedentarismo é uma forma de enraizamento.

                        Uma planta só sobrevive se estiver ligada de forma incisiva ao solo.

                        O sedentário comporta-se de forma idêntica, ligando-se, da mesma forma, á tudo que o cerca, para que não se deixe levar.

                        Ele o faz através de um cabedal de emoções que flutuam de forma desenfreada dentro de si.

                        São elas o seu liame, as  suas raízes.

                        Só tem um problema: Ele não é uma planta e, ao contrário dos vegetais, terá que quebrar tais ligaduras se quiser crescer.

                        Para crescer ele terá que se tornar um nômade.


capítulo v

o nômade e a mente


                        O nômade, pelas mesmas razões ditas acima deve possuir uma mente clara e simples.

                        É preciso não confundir o conceito de simplicidade com o conceito de puerilidade ou vulgaridade.

                        Ele é capaz de grandes avanços e aprofundamentos intelectuais, todavia sua mente foi esvaziada de tudo quanto é desnecessário, assim como a sua sacola de viagem.

                        A mente dele, acostumada a imensidão das grandes planícies e montanhas é, em regra silenciosa ou bastante tranqüila.

                        Possui energia mental concentrada e agi com precisão em face disso.

                        Sua mente aponta sempre em uma direção, pois possui poder de concentração e, portanto, não vagueia sem rumo.

                        Quando se vê em um dilema, decide com clareza e sua mente treinada em decidir lhe aponta uma solução.

                        Seu domínio das emoções não lhe permite o medo.

                        É claro que ele é passível de erro, mas não o lastima, pelo menos por muito tempo, pois retoma, logo, outro caminho.

                        É regra básica é permanecer de pé e seguir em frente.

                        Caminha, medita e ora.

                        Ação, reflexão e devoção unidas em um só.

                        Ele possui uma mente sempre pronta a encontrar o novo e a se adaptar a ele.

                        Não se liga a sentimentos ou pensamentos do passado de modo a cristaliza-los para viver de suas repetições.

                        Vive o presente e se comporta de acordo com as exigências de cada situação.

                        A originalidade é a maior característica de seus estados mentais.

                        Tudo é movimento sempre.




capítulo vi

o sedentário e a mente

                       
                        A mente do sedentário é basicamente concreta.    Funciona apenas tridimensionalmente.

                        Opera apenas sobre repetição de informações antigas ou combinações daqueles dados.

                        Como não tem controle sobre suas emoções, sua mente é agitada e improdutiva.

                        Note-se que tem uma mente agitada, mas que não movimenta, pois não é criativa.

                        Movimento e criatividade são iguais para a mente, é importante compreender isto.

                        É uma mente que não arrisca pois o sedentário é dominado pelo medo da mudança, fruto de seu descontrole emocional  que não lhe permite ver a realidade, ou seja, a necessidade da mudança, ou de continuar a caminhada.

                        Em face disso vive em um emaranhado mental de informações e imagens desordenadas que vivem num eterno acasalamento estéril.

                        Sua única e nefasta função é iludir a pessoa quanto á sua importância e suas realizações.

                        É como correr em uma esteira rolante, cansar-se sem nunca sair do lugar e guardar consigo a ilusão de que deu a volta ao mundo.

                        É preciso ser nômade na mente e nas emoções, vasculhando o novo, sob pena de perecimento e deterioração.

                       

capítulo vii

o espírito


                        Foi dito anteriormente que o espírito é movimento enquanto a matéria é inércia.

                        Ouvi tal assertiva de meu Mestre o Swami Sarvânanda, que por sua vez aprendeu com o seu Mestre Sri Sevãnanda Swami.

                        Entretanto, a minha pequena experiência nesta vida e o que trago comigo só corroboram tal afirmação.

                        Não tenho como convencer ninguém disso, é mister que o comprovem como eu e os que me precederam o fizeram.

                        É que o espírito, original, perene e puro como é, Luz proveniente da Luz, movimenta-se sempre em aspiral para cima em direção á fonte de onde proveio.

                        A matéria, por sua vez, inercial, composta e degenerativa, sempre busca a sombra e a imobilidade.

                        Logo a matéria é sedentária, enquanto o espírito é nômade.

                        Ele é libertário, busca o infinito e nunca se detêm.

                        A matéria é limitada e estagnada.

                        É ela a âncora do espírito, as amarras do balão, quer seja matéria densa, mental ou emocional.

                        Sim, tudo isso ainda é matéria.

                        Devemos ser guiados pelo espírito.

                        Devemos deixar que o nômade em nós flua com toda a força.

                        Devemos abraçar a bandeira da aventura espiritual e peregrinar em direção à Montanha da Luz.




capítulo viii

a terra e os seus habitantes humanos


                        As tribos nômades viviam e ainda vivem sobre o planeta de forma mais integrada do que o homem sedentário.

                        A sua movimentação constante dava tempo ao planeta de se recuperar da investida dos humanos.

                        Os homens mudavam de acampamento permitindo a recuperação da área em todos os sentidos.

                        Nunca extraíam ou matavam mais do que necessitavam, procurando sempre os animais menos potentes e preservando os mais fortes para procriação e  proteção da manada.

                        Assim concorriam para a seleção natural.

                        A estagnação do homem em determinadas áreas tem levado ao exaurimento dos recursos naturais e provocando desequilíbrio em todo o planeta.

                        A terra, com todo ser vivo reage de tempos em tempos, provocando catástrofes que abalam a estrutura estabelecida pelos homens.

                        De tal forma o planeta lança os homens, forçosamente, na aventura de viver e se encontrar, restaurando, também, o seu equilíbrio.

                        Todavia seria ingênuo pensar que todos os eventos catastróficos têm origem na conduta humana.

                        Entretanto é dos humanos que tratamos aqui.

capítulo ix

o nomadismo espiritual


                               Finalmente uma pergunta se faz necessário. Será que a solução para a humanidade é um eterno vagar pelo  planeta, abandonando as cidades que construímos?

                               Uma segunda pergunta se impõe, ato contínuo: Por que será que Deus prometeu a Abraão uma terra se desejava que vagassem para sempre?

                               Em primeiro lugar é preciso que se entenda que a promessa bíblica é, antes de tudo, simbólica, mas, ainda assim, a resposta para a primeira pergunta é “NÃO”.

                                Seguiremos, agora, justificando as respostas ofertadas acima.

                               Em uma fase mais rudimentar da história humana, quando o Ser se encontrava submetido à matéria, foi necessário que esta fosse fustigada para que o homem tivesse movimentado o seu íntimo.

                                Era de se esperar que com a evolução corpos menos densos fossem utilizados e que o aquietar dos corpos, verdadeiros veículos e coadjuvantes nesta história, não impedissem o movimento do espírito em direção à Luz.

                               Entretanto, o homem, em face de sua parcial liberdade de escolha tomou caminho diverso, optando pela indolência dos sentidos e da mente á medida que o seu corpo buscava maior conforto.

                               Eis as razões das austeridades que discípulos do mundo todo tem praticado ao longo dos anos.

                               Na verdade a austeridade está ligada á imaturidade espiritual do homem.

                               Ou seja, quanto mais maduro o indivíduo menor a sua quota de praticas físicas.

                               Deve-se, todavia, lembrar que a conservação do veículo carnal é um dever do ser.


capítulo x

as práticas


                               A partir de agora iniciaremos um relato sintético das práticas dos estudantes que buscam retornar ao movimento.

                               É preciso que se advirta que o que se pretende aqui é um relato sintético e generalizado de condutas e posicionamentos que tomam forma específica quando transmitidos de forma direta e individual.

                               Todas as práticas têm por objetivo harmonizar os corpos físico, emocional e mental para que o homem possa se tornar ativo.

                               As práticas são, portanto, transitórias e não possuem finalidade em si mesmas, devendo-se evitar o apego até mesmo a elas.

                               Na Sarva Yoga diz-se que a realização encontra-se no equilíbrio da tríplice utilidade: Utilidade ao Alto, Utilidade a Si e Utilidade ao Próximo.

                               É portanto um movimento tríplice.

                               Ação em três esferas, ser Karma, Bhakti e Gnana Yogue de forma equilibrada.

                               De outra forma equivale ao Satychiananda da vedanta.

                               Sat é a verdade o real, chi é a consciência de SI, da própria existência e ananda é beatitude ou bem aventurança.

                               Chi vem ao centro, assim como a Utilidade a SI, porque a existência a consciência é sempre o referencial para o ser iniciar a sua caminhada.

                               A consciência é o ponto central e de equilíbrio para a descoberta da verdade e da bem aventurança.

                               É preciso caminhar rumo a um despertar, ou seja, o florescimento da consciência.

                               É preciso saber quem SOMOS, ser consciente.

                               Eis aí, mais uma vez a máxima “Conhece-te a ti mesmo”.

capítulo xi

a doutrina oriental
o monge errante


                              
                                Durante séculos a Índia e o Oriente nos tem legado um verdadeiro tesouro iniciático, através de seus Sadhus e Mestres e Rishis que nos tem transmitido sua sabedoria de forma direta ou através de textos sagrados.

                               É de se destacar a ioga, sobretudo em seus aspectos, karma, bakthi e gnana, ressaltando, ainda, a raja.

                               Na verdade os caminhos acima, muitas vezes apontados como vias individuais, não o são.

                               É necessária uma conduta equilibrada para que estas vias estejam vivas no interior de cada um e de forma ativa.

                               A karma ioga, bem definida no livro do Swami Vivekananda tem por fim atribuir ao caminhante um sentido de desapego de suas ações.

                               Para tanto é preciso que elas sejam praticadas com desapego e como oferta ao Alto ou a Deus, com sincera devoção (bakthi), sem esperar recompensa.

                               É preciso que o homem se conduza pela via, agindo de forma deliberada e consciente, mas mantendo sua mente fixa em Deus, ou seja, em constante concentração (dhyana), para chegar á profunda meditação, eis aí a raja ioga no cotidiano do homem.

                               Lado outro, para atingir a consciência que age de forma livre e sem laços, deve distinguir o real do irreal.

                               Para tanto, deve professar a gnana ioga, consoante explicado no livro do Swami Vivekananda (Gnana Ioga).

                               Mas, olhando para estas quatro vias de forma integral, como se fossem faces do mesmo caminho, teremos a ioga pura e completa.

                               Estas quatro vias atualizadas, sem os excessos e aspectos culturais que marcam a doutrina indiana, em face das supertições e folclore que circundam tal ciência, são a nossa Sarva Yoga.

                               Acresça-se a ela os métodos mais modernos e apropriados à vida do homem moderno.

                               Dela falaremos mais adiante, de forma direta, pois como já se percebe, é dela que falamos em todo este documento escrito.

                         
                               Na Índia é comum que o chela faça austeridades, fustigando o corpo para submete-lo à vontade do espírito.

                               Vive do que lhe dão e pratica a erratividade, rescendendo no físico o nomadismo, para que reverbere em seu íntimo.

                               Normalmente, neste período ele vive os mais profundos estados transcendentais.


capítulo xii

a doutrina ocidental
a cavalaria cristã



                               No ocidente temos a doutrina cristã e a via que tomamos como referência para este trabalho é o da Cavalaria Cristã.

                               A base do Cristianismo é o Amor a Deus, Amor a Si, Amor ao Próximo.

                               Aqui temos, mais uma vez a tríplice utilidade.

                               O nosso primeiro Acharya e fundador, o Mestre Sevânanda, em seu livro o “Homem, esse Conhecido”, nos fala da Cavalaria Cristã ás fls. 233.

                               Fala com a propriedade de quem vivia o que ensinava e nos dava como referência um Dom Quixote, não em seu aspecto burlesco, mas em sua intinerância, persistência, devoção, dedicação e absoluta entrega á Deus.

                               Sancho Pança, um improvável escudeiro (discípulo dos cavaleiros, preparando-se para a sagração), montado em um burro representa a humildade e dedicação silenciosa.

                               Por isso, diz ele, devemos ser um pouco Dom Quixote e Sancho Pança, segundo nos ensina o grande Mestre.

                               É importante apontar a identidade entre as duas vias que tem como base a intinerância ou o nomadismo.

                               O Cavaleiro é o monge-guerreiro, ou seja, une devoção e ação, mas mantém-se no caminho sobre a sua base (cavalo), que é o animismo domado, entre a cruz e a espada está  a sua consciência equilibrada.

                               O monge errante oriental carrega o bastão do caminhante e segue sempre em frente, persevera, unindo a ação (caminhar) e a devoção (amor perseverante). É permeado pela consciência que lhe dá o norte (Deus), pois mantém sua mente dirigida para Deus.

                               Na verdade esta forma de ser deve permear o estudante, unindo Oriente e Ocidente em Si mesmo.



                              

capítulo xiii

a sarva ioga e a caminhada


                               Para o postulante “Sarva” não existe distinção entre a via ocidental e a oriental. Ele busca unir as duas em Si.

                               A praticidade do Ocidente e a capacidade de adaptação são equilibradas pela devoção.

                               A devoção encontra equilíbrio na disciplina e metodologia intelectual do ocidente, na sua capacidade de racionalizar.

                               A obediência estrita da Cavalaria encontra equilíbrio no discernimento (gnana).

                               A repetição (oração e japa) de atos encontra apoio na devoção e concentração (dharana), para se chegar á meditação (dhyana).

                               O pensamento científico ocidental encontra o oriental quando o Sarva iogue se nega a rejeitar ou aceitar o que quer que seja sem antes verificar, experimentar e investigar, para comprovar a sua eficácia e a sua realidade.

                               O Estudante Sarva recebe três instruções básicas que são chamadas de probacionismo, mas que para efeito deste trabalho poderiam ser chamadas de jornadas.

capítulo xiv

a primeira jornada

                              
                               A primeira instrução pretende levar o estudante ao contato com a sua fonte emocional ou despertar os seus sentimentos mais profundos.

                               É curial que nesta fase ele já domine uma certa disciplina corporal.

                               Alguns já nascem com isso, dispensando-se um treinamento breve, mas para outros é recomendável uma prática prévia de hatha ioga.

                                Ele deve procurar despertar sempre no mesmo horário e, após a higiene corporal, fazer a oração de abertura.

                               Esta oração, renovada diariamente, deve ser feita com todo o ardor possível.

                               A busca do equilíbrio emocional é árdua e o principal adversário nesta jornada é a oscilação de humor.

                               É importante que o estudante peça ajuda ao Alto para que não venha a sofrer com a ira no decorrer do dia.

                               É certo que serão muitas as situações que poderão levá-lo a esse estado negativo.

                               Lado outro é bom lembrar que a euforia é um indicativo do desequilíbrio emocional e que, normalmente, precede a ira seguida da depressão, lançando o estudante num círculo desequilibrado e vicioso.

                               Sempre, antes de ingerir qualquer alimento, deverá dirigir seu pensamento á Deus e agradecer.

                               Com isso, o estudante estará aprendendo a  manter a mente fixa em Deus durante todo o dia. Além do mais, deverá compreender que tudo é uma dádiva do Alto.


                               É claro que tudo isso só faz sentido se for feito de coração. Fazer de forma desatenta é pior do que não fazer, posto que na última hipótese existe, pelo menos, sinceridade.

                               Que isso não seja desculpa para os indolentes que sempre negligenciam suas funções ao argumento de que “sentiram que não deviam fazer”.

                               No final do dia, ele fará anotações sintéticas em seu diário (caderno previamente separado para este fim).

                               Finalmente ele deverá se recolher, agradecendo tudo o que foi vivido, fazendo um balanço do seu dia e pedir que ao adormecer possa ser utilizado pelo Alto, ou seja, colocar-se ás ordens.

                               Pedir para lembrar se for possível é a última parte da instrução, todavia, ele não deve forçar-se a isto e nem se preocupar se não se lembra de nada.

                               Esta instrução, se bem feita já é o suficiente para levar o estudante muito longe.

                               Com tudo que ela contém, me surpreende quando alguns estudantes reclamam pela próxima instrução, dizendo-se entediados com a primeira.

                               Isto já é indicativo o suficiente de que não podem prosseguir.

                               Já não me surpreende, mas é um mal sinal, quando o estudante começa a ligar ou procurar o instrutor a toda hora com relatos do que viveu.

                               Primeiro, está claro, pela vibração que ele emana e a sua euforia com a espera de respostas que ele é um imaturo.


                        Uma pessoa que corre a contar sobre a sua experiência amorosa é um imaturo.

                        Aqui é da mesma forma.

                        A instrução é clara ao dizer que o estudante deve manter o seu “diário de bordo”, peça que lhe será muito útil no futuro, e apresenta-lo ao instrutor de quarenta em quarenta dias ou sessenta em sessenta dias, sem esperar qualquer resposta.

                        NINGUÉM FAZ ISSO.

                        Fiquem alerta: A jornada é mais acidentada do que parece.

                       

capítulo xv

a segunda jornada


                               A segunda jornada consiste em prosseguir na primeira, intensamente, acrescendo-se um exercício de concentração (dharana).

                               Aqui recorremos ao zen-budismo por entender que sua eficácia é maior.

                               De forma adaptada os instrutores Sarva criaram a prática chamada “Ponto Verde”.

                               Se o estudante não foi feliz na primeira instrução haverá de fracassar nesta também.

                               É que a quietitude mental não é alcançada sem intensidade cardíaca.

                               Lembre-se que a intensidade cardíaca consiste em um sentir forte, sutil, equilibrado e bem direcionado.

                               Assim, assentado na disciplina corporal e na intensidade cardíaca ele poderá direcionar sua atenção para o ponto por alguns minutos (cinco a dez).

                               Aqui ele aprende a direcionar a energia mental, aquietando a mente e projetando-a em uma direção.

                               Corpo equilibrado, emoção equilibrada e mente equilibrada.

                               Conseguindo isso, ele estará pronto para o próximo passo.

                              

capítulo xvi

a terceira jornada


                               Quando o estudante chega a este nível, deve possuir a mente quieta e um coração ardente, sem animismos ou descontroles.

                               Então ele deverá encontrar uma almofada, um metro de seda branca, azul clara ou amarela, que será imantada com o seu trabalho.

                               Nesta fase ele deverá compreender o que é CHASSI, ou seja, chamamento de SI.

                                O estudante começará pelo CHASSI físico, descobrindo o seu corpo e conhecendo, após algum tempo passará também ao emocional e mental, até chegar ao seu ÍNTIMO.

                               A prática sempre começa com o estudante sentando confortavelmente sobre a almofada, quer seja em lótus ou semi-lótus ou em uma poltrona devidamente separada para tanto.

                               Ele começa observando a sua respiração, mas sem interferir, respirando livre e profundamente.

                               Ele deverá manter a mente quieta, concentrado na respiração e o corpo imóvel.

                               No princípio é tudo.

                               Depois instruções pessoais virão.

                               Uma delas, depois de certa prática, consiste em, de forma consciente, em todos os níveis, direcionar-se para Deus.

                               Não tente isto ainda, se você não se preparou.

                               O resto não deve ser registrado em um texto como este.

                               Entretanto é bom que se diga que esta prática não dispensa as anteriores e que a experiência nos ensina que é conveniente que seja feita pela manhã depois da “Oração de Abertura” e do “ Ponto Verde”.

                                Esta prática deve durar cerca de dez a quinze minutos e deve ser feita individualmente.



considerações finais



                               Como você percebeu o nômade é uma alegoria usada para identificar todos os praticantes que trilham o caminho espiritual.

                               Nômade, errante, caminhante, peregrino, são algumas palavras que são utilizadas alegoricamente.

                               Para finalizar devo dar algumas indicações:

·        Não julgue os outros, companheiros de jornada ou não, porque isso equivale a julgar a Deus. Afinal é ele o Senhor de todas as coisas, foi ele quem estabeleceu o “Programa de cada um”, inclusive o seu. Em síntese, você não tem nada com isso.

·        Não procures medir a evolução de quem quer que seja, incluindo a tua. Só a medida de Deus tem valor. Só a criança sabe qual brinquedo melhor lhe apetece.

·        Não valorize em demasia os teus próprios defeitos, siga caminhado, ou não chegarás a lugar nenhum. Entretanto, não sejas demasiado indulgente.

·        Trate bem o corpo, o invólucro carnal. Não o fustigue em demasia, lembre-se que ele não te pertence. Ele foi dado como tudo o mais, para a sua caminhada, é como a sua morada, ou sua tenda, ou mesmo sua vestimenta. Cuide dele, pois um dia deverás prestar contas, todavia, não te rendas ao teu domínio.

·        Cuida das tuas emoções, controla-as, mas não as maltrate ou haverás de  perder o controle. Olha para ela como para um animal de estimação. Ex.: Um cão, deve ser controlado, mas bem tratado e alimentado. Não pode viver acorrentado, mas não pode deixa-lo sempre solto por aí. Controlai-o com a sua autoridade e usa os seus atributos (faro), para rastrear o caminho, mas sempre sob teu domínio e próximo a ti.

·        Mantenha a mente limpa e bem direcionada, trata-a como o seu computador. Livra-a dos vírus e dos programas inúteis. Ela está a seu serviço, mas também não é tua. Converte-a em tua aliada, assim como o corpo físico e o emocional. Um dia prestarás contas de tudo isso. Dá-lhe trabalho, utiliza-a para se ligares ao computador central, mas dá-lhe descanso também ou perderás tua máquina.

·        Olha teu conjunto, aprenda a gostar dele, ou seja, de Si, aprenda a gostar do próximo sem julga-lo, em face disso ama a Deus e sê-LHE eternamente grato.

·        O amor é sempre o melhor canal para uma boa comunicação com o Alto.

·        Vive a vida, aprende a gostar dela pois é mais uma dádiva de Deus.

·        Ouse mais, lembre-se que sigla OSA, quer dizer “ousa” em espanhol.

·        Sê absolutamente sincero e honesto com teus instrutores e, mais importante, consigo mesmo.

·        Mantém tua mente e sentimento sempre nele.

É tudo,

                       Montes Claros, 25 de julho de 2004.



Swami Satyananda
3º Sarvayogacharya
Ordem dos Sarvas - OSA




 

                              






                              

                                               

                       

                              

                 





capítulo i

quem é o nômade?


                A primeira pergunta a ser feita e a primeira a ser respondida é “Quem é o nômade da nossa história?”

                A resposta poderá parecer estranha à primeira vista, ou melhor, á primeira leitura, mas não há como evitar:

                É você, eu ou qualquer outro ser humano que esteja lendo este modesto escrito.

                É que o ser humano sempre foi um nômade e deve seguir com o seu nomadismo.

                O abandono deste modo de vida tem sérias implicações em nossa vida e no equilíbrio planetário.

                Como pretendo demonstrar ao longo deste texto, o homem tem, em sua natureza, seja física, emocional, mental, ou nomadismo.

                O sedentarismo sempre foi mortal para o homem, em todos os aspectos, assim como tem provocado o desequilíbrio planetário.

                Até mesmo a relação com o Divino, a escolha de um Deus como objeto de culto, o monoteísmo tem como base o nomadismo, ao contrário do politeísmo que está ligado a uma vida sedentária.

                A firmeza de caráter e sua formação, bem como a solidificação cultural, também estão ligadas ao nomadismo.

                É por isso que este texto é dedicado a todos nós humanos, nômades por natureza.

                Meus sinceros votos é que você se sinta como tal, caso contrário que lute para sê-lo.

capítulo ii

a origem do nômade



                Dizem que os antigos primatas viviam nas grandes florestas africanas, nas árvores frondosas, alimentando-se de seus frutos.

                Entretanto, possuindo em seu âmago a centelha divina, alguns decidiram, impelidos pela chama sagrada que os distinguiam de outros seres, investigar o que existia além da floresta.

                Desceram das árvores e seguiram em direção às savanas, enfrentando toda sorte de perigos, conhecendo a dor, o sofrimento, a fome e a morte sob as garras de várias feras.

                É claro que tais fatos não se deram da noite para o dia, mas resultou de milhares de anos de evolução.

                Entretanto, o interessante é que aqueles que optaram em permanecer estagnados nas florestas sofreram a supressão de chispa divina, dando origem aos grandes símios que habitam as matas e os nossos zoológicos.

                Tudo leva a crer que o homem moderno nasceu com o nomadismo e que, portanto, a estagnação gerou a involução de seus irmãos indolentes.

                É importante ressaltar que foi a descida para a savana que impôs ao homem a necessidade de se colocar de pé, para que avistasse com antecipação quaisquer perigos que se aproximassem.

                Aqueles seres primitivos começaram a caminhar pelo planeta, povoando-o em diversas regiões do globo.

                Não se tem notícia de outra espécie que exista em todo o globo de forma tão extensa quanto o ser humano, vencendo intempéries e toda a sorte de adversidades.

                É pelo menos curioso que os animais que habitam o globo não tenham a mesma tendência do homem, ou seja, a de caminhar pela terra espalhando sua semente.

                É preciso que se diga que o presente trabalho não tem por escopo se aprofundar em questões antropológicas, mas apenas indicar a importância deste comportamento nômade para a nossa espécie.

                Além disso, pretendo relaciona-lo com a presença do Divino em nós.


capítulo iii

a importância do nomadismo para o corpo físico


                É notável a descoberta da ciência quanto a importância do exercício físico para o homem moderno.

                Curiosamente, em tempos de um avançado conhecimento tecnológico, o homem se torna obeso, cansado, fisicamente abatido.

                É comum que pessoas ainda jovens tenham problemas circulatórios, cardíacos, excesso de peso, coluna, etc.

                Hoje já é comum em nossas avenidas pessoas caminhando para recuperar ou manter a saúde.

                As academias de ginástica estão lotadas e as dietas fazem cada vez mais sucesso.

                Na maioria absoluta das vezes, tais práticas se fazem com o apoio dos médicos.

                É fácil compreender que o corpo humano foi elaborado para estar em movimento e que a sua estagnação compromete o seu desempenho e manutenção.

                Não é sem razão que as antigas iniciações exigiam um intenso esforço físico, mas sobre isso falaremos mais adiante.

                Todavia, o homem antigo, aquele que precisava empreender longas jornadas em busca de um lugar seguro para repousar, bem como para encontrar alimento e água potável, não sofria de tais males na mesma proporção que o homem moderno.

                É verdade que quando acometido por algum mal (intoxicação, infecção, doenças infecto-contagiosas, etc.), pereciam rapidamente, mas é certo que até algumas gerações passadas o homem, principalmente o jovem, não sofria dos males do mundo moderno.

                Este confronto se faz necessário para demonstrar que o corpo humano vai se deteriorando em face da sua não utilização, ou utilização indevida.

                Se antes o homem morria quando alcançado por causas externas, agora perece em face da mera deterioração pelo desuso.

                Urge, portanto, uma mudança de atitude.

               

capítulo iv

o nomade e o desafio emocional


                O nômade vive cada dia em um lugar e estava sempre pronto para o inesperado.

                Em razão disso convive de forma racional com a sua carga emocional, ou seja, temores, paixões, laços, etc., posto que disso depende a sua sobrevivência e a do seu grupo.

                Ele não pode se apegar às pessoas que encontra, por mais amáveis que sejam; lugares, ainda que aprazíveis e belos; objetos que não lhe são úteis e modos burocratizados ou complexos de vida.

                Qualquer deslize nesse sentido faz com que a vida se torne impraticável para ele.

                Assim suas emoções devem ser equilibradas e controladas, mas não reprimidas.

                Aprende a fazer as suas escolhas e assumir suas conseqüências sem medo.

                Está integrado à natureza, compreendendo e aceitando as suas nuances: Vida e morte, ou seja, o ciclo da vida.

                Sua relação com o Divino está ligada à compreensão da imensidão e do incomensurável e da sua transitoriedade enquanto neste plano.

                A própria inconstância do seu cotidiano lhe demonstra a insensatez de se opor aos fatos da vida.

                A intolerância e rejeição significam ignorância e morte.

                Ele nunca esgota os recursos naturais, pois nunca permanece no mesmo lugar para sempre.

                Ainda que  o faça, a sua retirada de certa área por determinado tempo, permite a recomposição da região, respeitando o meio ambiente naturalmente.

                Não é que ele não ame e não sofra, mas mantém-se de pé quando atingido pela dor, pois deve sempre prosseguir, afinal esta é a razão de sua vida.

                Seus relacionamentos são baseados no afeto mútuo, mas permeados pela racionalização.

                Seus pactos são firmados não só com base na afeição mas também nas afinidades e capacidade de realização conjunta.

                As separações que ocorrem ao longo do caminho, ainda que o atordoem não o impedem de prosseguir, posto que este é o seu dever.

                Assim como Abraão se separou de seu amado sobrinho Lot e prosseguiu rumo ao desconhecido, em busca da Terra Santa, também o nômade moderno manterá a mesma conduta e propósito.

                Afinal, faz parte do jogo da vida, nascimentos e mortes, associações e cisões. Rumos diversos se apresentam para os caminhantes, que nem sempre fazem as mesmas opções.

                Muitas portas existem, mas nem todos passamos pelos mesmos portais.

                Os relacionamentos devem ser marcados por um amor maduro e equilibrado, afeição terna e serena em lugar de paixões avassaladoras que nos prendem a outro objeto de ilusão.

                Todavia, para que perdurem, devemos marca-lo pela renovação de conduta, diariamente, sob  pena de perecimento.

                Muitas vezes saímos em busca de novos relacionamentos, culpando o outro pelo nosso fracasso, quando o que precisamos é de uma atitude renovada, para conosco e com o companheiro.

                Várias vezes manter um relacionamento é sinal de apego, mas, por outro lado, rompe-lo pode ser uma confissão de fracasso e somente mais uma fuga.

               


capítulo iv

o homem sedentário e suas emoções


                        O homem sedentário, ao contrário do nômade, vive às turras com a natureza, a começar com a sua própria.

                        Atendendo ao chamado da matéria, encontra-se estagnado, evitando qualquer coisa que transforme o seu modo de vida.

                        Entretanto, enquanto a natureza da matéria é a inércia, e, portanto, a morte, a natureza do espírito é movimento e, portanto, vida.

                        De tal conflito surge uma gama de emoções desenfreadas e desequilibradas.

                        Seu humor, em regra é mutável, variando do negro, cinza chumbo para a euforia e retornando à melancolia.

                        Apega-se á tudo que existe á sua volta pois o sedentarismo é uma forma de enraizamento.

                        Uma planta só sobrevive se estiver ligada de forma incisiva ao solo.

                        O sedentário comporta-se de forma idêntica, ligando-se, da mesma forma, á tudo que o cerca, para que não se deixe levar.

                        Ele o faz através de um cabedal de emoções que flutuam de forma desenfreada dentro de si.

                        São elas o seu liame, as  suas raízes.

                        Só tem um problema: Ele não é uma planta e, ao contrário dos vegetais, terá que quebrar tais ligaduras se quiser crescer.

                        Para crescer ele terá que se tornar um nômade.


capítulo v

o nômade e a mente


                        O nômade, pelas mesmas razões ditas acima deve possuir uma mente clara e simples.

                        É preciso não confundir o conceito de simplicidade com o conceito de puerilidade ou vulgaridade.

                        Ele é capaz de grandes avanços e aprofundamentos intelectuais, todavia sua mente foi esvaziada de tudo quanto é desnecessário, assim como a sua sacola de viagem.

                        A mente dele, acostumada a imensidão das grandes planícies e montanhas é, em regra silenciosa ou bastante tranqüila.

                        Possui energia mental concentrada e agi com precisão em face disso.

                        Sua mente aponta sempre em uma direção, pois possui poder de concentração e, portanto, não vagueia sem rumo.

                        Quando se vê em um dilema, decide com clareza e sua mente treinada em decidir lhe aponta uma solução.

                        Seu domínio das emoções não lhe permite o medo.

                        É claro que ele é passível de erro, mas não o lastima, pelo menos por muito tempo, pois retoma, logo, outro caminho.

                        É regra básica é permanecer de pé e seguir em frente.

                        Caminha, medita e ora.

                        Ação, reflexão e devoção unidas em um só.

                        Ele possui uma mente sempre pronta a encontrar o novo e a se adaptar a ele.

                        Não se liga a sentimentos ou pensamentos do passado de modo a cristaliza-los para viver de suas repetições.

                        Vive o presente e se comporta de acordo com as exigências de cada situação.

                        A originalidade é a maior característica de seus estados mentais.

                        Tudo é movimento sempre.




capítulo vi

o sedentário e a mente

                       
                        A mente do sedentário é basicamente concreta.    Funciona apenas tridimensionalmente.

                        Opera apenas sobre repetição de informações antigas ou combinações daqueles dados.

                        Como não tem controle sobre suas emoções, sua mente é agitada e improdutiva.

                        Note-se que tem uma mente agitada, mas que não movimenta, pois não é criativa.

                        Movimento e criatividade são iguais para a mente, é importante compreender isto.

                        É uma mente que não arrisca pois o sedentário é dominado pelo medo da mudança, fruto de seu descontrole emocional  que não lhe permite ver a realidade, ou seja, a necessidade da mudança, ou de continuar a caminhada.

                        Em face disso vive em um emaranhado mental de informações e imagens desordenadas que vivem num eterno acasalamento estéril.

                        Sua única e nefasta função é iludir a pessoa quanto á sua importância e suas realizações.

                        É como correr em uma esteira rolante, cansar-se sem nunca sair do lugar e guardar consigo a ilusão de que deu a volta ao mundo.

                        É preciso ser nômade na mente e nas emoções, vasculhando o novo, sob pena de perecimento e deterioração.

                       

capítulo vii

o espírito


                        Foi dito anteriormente que o espírito é movimento enquanto a matéria é inércia.

                        Ouvi tal assertiva de meu Mestre o Swami Sarvânanda, que por sua vez aprendeu com o seu Mestre Sri Sevãnanda Swami.

                        Entretanto, a minha pequena experiência nesta vida e o que trago comigo só corroboram tal afirmação.

                        Não tenho como convencer ninguém disso, é mister que o comprovem como eu e os que me precederam o fizeram.

                        É que o espírito, original, perene e puro como é, Luz proveniente da Luz, movimenta-se sempre em aspiral para cima em direção á fonte de onde proveio.

                        A matéria, por sua vez, inercial, composta e degenerativa, sempre busca a sombra e a imobilidade.

                        Logo a matéria é sedentária, enquanto o espírito é nômade.

                        Ele é libertário, busca o infinito e nunca se detêm.

                        A matéria é limitada e estagnada.

                        É ela a âncora do espírito, as amarras do balão, quer seja matéria densa, mental ou emocional.

                        Sim, tudo isso ainda é matéria.

                        Devemos ser guiados pelo espírito.

                        Devemos deixar que o nômade em nós flua com toda a força.

                        Devemos abraçar a bandeira da aventura espiritual e peregrinar em direção à Montanha da Luz.




capítulo viii

a terra e os seus habitantes humanos


                        As tribos nômades viviam e ainda vivem sobre o planeta de forma mais integrada do que o homem sedentário.

                        A sua movimentação constante dava tempo ao planeta de se recuperar da investida dos humanos.

                        Os homens mudavam de acampamento permitindo a recuperação da área em todos os sentidos.

                        Nunca extraíam ou matavam mais do que necessitavam, procurando sempre os animais menos potentes e preservando os mais fortes para procriação e  proteção da manada.

                        Assim concorriam para a seleção natural.

                        A estagnação do homem em determinadas áreas tem levado ao exaurimento dos recursos naturais e provocando desequilíbrio em todo o planeta.

                        A terra, com todo ser vivo reage de tempos em tempos, provocando catástrofes que abalam a estrutura estabelecida pelos homens.

                        De tal forma o planeta lança os homens, forçosamente, na aventura de viver e se encontrar, restaurando, também, o seu equilíbrio.

                        Todavia seria ingênuo pensar que todos os eventos catastróficos têm origem na conduta humana.

                        Entretanto é dos humanos que tratamos aqui.

capítulo ix

o nomadismo espiritual


                               Finalmente uma pergunta se faz necessário. Será que a solução para a humanidade é um eterno vagar pelo  planeta, abandonando as cidades que construímos?

                               Uma segunda pergunta se impõe, ato contínuo: Por que será que Deus prometeu a Abraão uma terra se desejava que vagassem para sempre?

                               Em primeiro lugar é preciso que se entenda que a promessa bíblica é, antes de tudo, simbólica, mas, ainda assim, a resposta para a primeira pergunta é “NÃO”.

                                Seguiremos, agora, justificando as respostas ofertadas acima.

                               Em uma fase mais rudimentar da história humana, quando o Ser se encontrava submetido à matéria, foi necessário que esta fosse fustigada para que o homem tivesse movimentado o seu íntimo.

                                Era de se esperar que com a evolução corpos menos densos fossem utilizados e que o aquietar dos corpos, verdadeiros veículos e coadjuvantes nesta história, não impedissem o movimento do espírito em direção à Luz.

                               Entretanto, o homem, em face de sua parcial liberdade de escolha tomou caminho diverso, optando pela indolência dos sentidos e da mente á medida que o seu corpo buscava maior conforto.

                               Eis as razões das austeridades que discípulos do mundo todo tem praticado ao longo dos anos.

                               Na verdade a austeridade está ligada á imaturidade espiritual do homem.

                               Ou seja, quanto mais maduro o indivíduo menor a sua quota de praticas físicas.

                               Deve-se, todavia, lembrar que a conservação do veículo carnal é um dever do ser.


capítulo x

as práticas


                               A partir de agora iniciaremos um relato sintético das práticas dos estudantes que buscam retornar ao movimento.

                               É preciso que se advirta que o que se pretende aqui é um relato sintético e generalizado de condutas e posicionamentos que tomam forma específica quando transmitidos de forma direta e individual.

                               Todas as práticas têm por objetivo harmonizar os corpos físico, emocional e mental para que o homem possa se tornar ativo.

                               As práticas são, portanto, transitórias e não possuem finalidade em si mesmas, devendo-se evitar o apego até mesmo a elas.

                               Na Sarva Yoga diz-se que a realização encontra-se no equilíbrio da tríplice utilidade: Utilidade ao Alto, Utilidade a Si e Utilidade ao Próximo.

                               É portanto um movimento tríplice.

                               Ação em três esferas, ser Karma, Bhakti e Gnana Yogue de forma equilibrada.

                               De outra forma equivale ao Satychiananda da vedanta.

                               Sat é a verdade o real, chi é a consciência de SI, da própria existência e ananda é beatitude ou bem aventurança.

                               Chi vem ao centro, assim como a Utilidade a SI, porque a existência a consciência é sempre o referencial para o ser iniciar a sua caminhada.

                               A consciência é o ponto central e de equilíbrio para a descoberta da verdade e da bem aventurança.

                               É preciso caminhar rumo a um despertar, ou seja, o florescimento da consciência.

                               É preciso saber quem SOMOS, ser consciente.

                               Eis aí, mais uma vez a máxima “Conhece-te a ti mesmo”.

capítulo xi

a doutrina oriental
o monge errante


                              
                                Durante séculos a Índia e o Oriente nos tem legado um verdadeiro tesouro iniciático, através de seus Sadhus e Mestres e Rishis que nos tem transmitido sua sabedoria de forma direta ou através de textos sagrados.

                               É de se destacar a ioga, sobretudo em seus aspectos, karma, bakthi e gnana, ressaltando, ainda, a raja.

                               Na verdade os caminhos acima, muitas vezes apontados como vias individuais, não o são.

                               É necessária uma conduta equilibrada para que estas vias estejam vivas no interior de cada um e de forma ativa.

                               A karma ioga, bem definida no livro do Swami Vivekananda tem por fim atribuir ao caminhante um sentido de desapego de suas ações.

                               Para tanto é preciso que elas sejam praticadas com desapego e como oferta ao Alto ou a Deus, com sincera devoção (bakthi), sem esperar recompensa.

                               É preciso que o homem se conduza pela via, agindo de forma deliberada e consciente, mas mantendo sua mente fixa em Deus, ou seja, em constante concentração (dhyana), para chegar á profunda meditação, eis aí a raja ioga no cotidiano do homem.

                               Lado outro, para atingir a consciência que age de forma livre e sem laços, deve distinguir o real do irreal.

                               Para tanto, deve professar a gnana ioga, consoante explicado no livro do Swami Vivekananda (Gnana Ioga).

                               Mas, olhando para estas quatro vias de forma integral, como se fossem faces do mesmo caminho, teremos a ioga pura e completa.

                               Estas quatro vias atualizadas, sem os excessos e aspectos culturais que marcam a doutrina indiana, em face das supertições e folclore que circundam tal ciência, são a nossa Sarva Yoga.

                               Acresça-se a ela os métodos mais modernos e apropriados à vida do homem moderno.

                               Dela falaremos mais adiante, de forma direta, pois como já se percebe, é dela que falamos em todo este documento escrito.

                         
                               Na Índia é comum que o chela faça austeridades, fustigando o corpo para submete-lo à vontade do espírito.

                               Vive do que lhe dão e pratica a erratividade, rescendendo no físico o nomadismo, para que reverbere em seu íntimo.

                               Normalmente, neste período ele vive os mais profundos estados transcendentais.


capítulo xii

a doutrina ocidental
a cavalaria cristã



                               No ocidente temos a doutrina cristã e a via que tomamos como referência para este trabalho é o da Cavalaria Cristã.

                               A base do Cristianismo é o Amor a Deus, Amor a Si, Amor ao Próximo.

                               Aqui temos, mais uma vez a tríplice utilidade.

                               O nosso primeiro Acharya e fundador, o Mestre Sevânanda, em seu livro o “Homem, esse Conhecido”, nos fala da Cavalaria Cristã ás fls. 233.

                               Fala com a propriedade de quem vivia o que ensinava e nos dava como referência um Dom Quixote, não em seu aspecto burlesco, mas em sua intinerância, persistência, devoção, dedicação e absoluta entrega á Deus.

                               Sancho Pança, um improvável escudeiro (discípulo dos cavaleiros, preparando-se para a sagração), montado em um burro representa a humildade e dedicação silenciosa.

                               Por isso, diz ele, devemos ser um pouco Dom Quixote e Sancho Pança, segundo nos ensina o grande Mestre.

                               É importante apontar a identidade entre as duas vias que tem como base a intinerância ou o nomadismo.

                               O Cavaleiro é o monge-guerreiro, ou seja, une devoção e ação, mas mantém-se no caminho sobre a sua base (cavalo), que é o animismo domado, entre a cruz e a espada está  a sua consciência equilibrada.

                               O monge errante oriental carrega o bastão do caminhante e segue sempre em frente, persevera, unindo a ação (caminhar) e a devoção (amor perseverante). É permeado pela consciência que lhe dá o norte (Deus), pois mantém sua mente dirigida para Deus.

                               Na verdade esta forma de ser deve permear o estudante, unindo Oriente e Ocidente em Si mesmo.



                              

capítulo xiii

a sarva ioga e a caminhada


                               Para o postulante “Sarva” não existe distinção entre a via ocidental e a oriental. Ele busca unir as duas em Si.

                               A praticidade do Ocidente e a capacidade de adaptação são equilibradas pela devoção.

                               A devoção encontra equilíbrio na disciplina e metodologia intelectual do ocidente, na sua capacidade de racionalizar.

                               A obediência estrita da Cavalaria encontra equilíbrio no discernimento (gnana).

                               A repetição (oração e japa) de atos encontra apoio na devoção e concentração (dharana), para se chegar á meditação (dhyana).

                               O pensamento científico ocidental encontra o oriental quando o Sarva iogue se nega a rejeitar ou aceitar o que quer que seja sem antes verificar, experimentar e investigar, para comprovar a sua eficácia e a sua realidade.

                               O Estudante Sarva recebe três instruções básicas que são chamadas de probacionismo, mas que para efeito deste trabalho poderiam ser chamadas de jornadas.

capítulo xiv

a primeira jornada

                              
                               A primeira instrução pretende levar o estudante ao contato com a sua fonte emocional ou despertar os seus sentimentos mais profundos.

                               É curial que nesta fase ele já domine uma certa disciplina corporal.

                               Alguns já nascem com isso, dispensando-se um treinamento breve, mas para outros é recomendável uma prática prévia de hatha ioga.

                                Ele deve procurar despertar sempre no mesmo horário e, após a higiene corporal, fazer a oração de abertura.

                               Esta oração, renovada diariamente, deve ser feita com todo o ardor possível.

                               A busca do equilíbrio emocional é árdua e o principal adversário nesta jornada é a oscilação de humor.

                               É importante que o estudante peça ajuda ao Alto para que não venha a sofrer com a ira no decorrer do dia.

                               É certo que serão muitas as situações que poderão levá-lo a esse estado negativo.

                               Lado outro é bom lembrar que a euforia é um indicativo do desequilíbrio emocional e que, normalmente, precede a ira seguida da depressão, lançando o estudante num círculo desequilibrado e vicioso.

                               Sempre, antes de ingerir qualquer alimento, deverá dirigir seu pensamento á Deus e agradecer.

                               Com isso, o estudante estará aprendendo a  manter a mente fixa em Deus durante todo o dia. Além do mais, deverá compreender que tudo é uma dádiva do Alto.


                               É claro que tudo isso só faz sentido se for feito de coração. Fazer de forma desatenta é pior do que não fazer, posto que na última hipótese existe, pelo menos, sinceridade.

                               Que isso não seja desculpa para os indolentes que sempre negligenciam suas funções ao argumento de que “sentiram que não deviam fazer”.

                               No final do dia, ele fará anotações sintéticas em seu diário (caderno previamente separado para este fim).

                               Finalmente ele deverá se recolher, agradecendo tudo o que foi vivido, fazendo um balanço do seu dia e pedir que ao adormecer possa ser utilizado pelo Alto, ou seja, colocar-se ás ordens.

                               Pedir para lembrar se for possível é a última parte da instrução, todavia, ele não deve forçar-se a isto e nem se preocupar se não se lembra de nada.

                               Esta instrução, se bem feita já é o suficiente para levar o estudante muito longe.

                               Com tudo que ela contém, me surpreende quando alguns estudantes reclamam pela próxima instrução, dizendo-se entediados com a primeira.

                               Isto já é indicativo o suficiente de que não podem prosseguir.

                               Já não me surpreende, mas é um mal sinal, quando o estudante começa a ligar ou procurar o instrutor a toda hora com relatos do que viveu.

                               Primeiro, está claro, pela vibração que ele emana e a sua euforia com a espera de respostas que ele é um imaturo.


                        Uma pessoa que corre a contar sobre a sua experiência amorosa é um imaturo.

                        Aqui é da mesma forma.

                        A instrução é clara ao dizer que o estudante deve manter o seu “diário de bordo”, peça que lhe será muito útil no futuro, e apresenta-lo ao instrutor de quarenta em quarenta dias ou sessenta em sessenta dias, sem esperar qualquer resposta.

                        NINGUÉM FAZ ISSO.

                        Fiquem alerta: A jornada é mais acidentada do que parece.

                       

capítulo xv

a segunda jornada


                               A segunda jornada consiste em prosseguir na primeira, intensamente, acrescendo-se um exercício de concentração (dharana).

                               Aqui recorremos ao zen-budismo por entender que sua eficácia é maior.

                               De forma adaptada os instrutores Sarva criaram a prática chamada “Ponto Verde”.

                               Se o estudante não foi feliz na primeira instrução haverá de fracassar nesta também.

                               É que a quietitude mental não é alcançada sem intensidade cardíaca.

                               Lembre-se que a intensidade cardíaca consiste em um sentir forte, sutil, equilibrado e bem direcionado.

                               Assim, assentado na disciplina corporal e na intensidade cardíaca ele poderá direcionar sua atenção para o ponto por alguns minutos (cinco a dez).

                               Aqui ele aprende a direcionar a energia mental, aquietando a mente e projetando-a em uma direção.

                               Corpo equilibrado, emoção equilibrada e mente equilibrada.

                               Conseguindo isso, ele estará pronto para o próximo passo.

                              

capítulo xvi

a terceira jornada


                               Quando o estudante chega a este nível, deve possuir a mente quieta e um coração ardente, sem animismos ou descontroles.

                               Então ele deverá encontrar uma almofada, um metro de seda branca, azul clara ou amarela, que será imantada com o seu trabalho.

                               Nesta fase ele deverá compreender o que é CHASSI, ou seja, chamamento de SI.

                                O estudante começará pelo CHASSI físico, descobrindo o seu corpo e conhecendo, após algum tempo passará também ao emocional e mental, até chegar ao seu ÍNTIMO.

                               A prática sempre começa com o estudante sentando confortavelmente sobre a almofada, quer seja em lótus ou semi-lótus ou em uma poltrona devidamente separada para tanto.

                               Ele começa observando a sua respiração, mas sem interferir, respirando livre e profundamente.

                               Ele deverá manter a mente quieta, concentrado na respiração e o corpo imóvel.

                               No princípio é tudo.

                               Depois instruções pessoais virão.

                               Uma delas, depois de certa prática, consiste em, de forma consciente, em todos os níveis, direcionar-se para Deus.

                               Não tente isto ainda, se você não se preparou.

                               O resto não deve ser registrado em um texto como este.

                               Entretanto é bom que se diga que esta prática não dispensa as anteriores e que a experiência nos ensina que é conveniente que seja feita pela manhã depois da “Oração de Abertura” e do “ Ponto Verde”.

                                Esta prática deve durar cerca de dez a quinze minutos e deve ser feita individualmente.



considerações finais



                               Como você percebeu o nômade é uma alegoria usada para identificar todos os praticantes que trilham o caminho espiritual.

                               Nômade, errante, caminhante, peregrino, são algumas palavras que são utilizadas alegoricamente.

                               Para finalizar devo dar algumas indicações:

·        Não julgue os outros, companheiros de jornada ou não, porque isso equivale a julgar a Deus. Afinal é ele o Senhor de todas as coisas, foi ele quem estabeleceu o “Programa de cada um”, inclusive o seu. Em síntese, você não tem nada com isso.

·        Não procures medir a evolução de quem quer que seja, incluindo a tua. Só a medida de Deus tem valor. Só a criança sabe qual brinquedo melhor lhe apetece.

·        Não valorize em demasia os teus próprios defeitos, siga caminhado, ou não chegarás a lugar nenhum. Entretanto, não sejas demasiado indulgente.

·        Trate bem o corpo, o invólucro carnal. Não o fustigue em demasia, lembre-se que ele não te pertence. Ele foi dado como tudo o mais, para a sua caminhada, é como a sua morada, ou sua tenda, ou mesmo sua vestimenta. Cuide dele, pois um dia deverás prestar contas, todavia, não te rendas ao teu domínio.

·        Cuida das tuas emoções, controla-as, mas não as maltrate ou haverás de  perder o controle. Olha para ela como para um animal de estimação. Ex.: Um cão, deve ser controlado, mas bem tratado e alimentado. Não pode viver acorrentado, mas não pode deixa-lo sempre solto por aí. Controlai-o com a sua autoridade e usa os seus atributos (faro), para rastrear o caminho, mas sempre sob teu domínio e próximo a ti.

·        Mantenha a mente limpa e bem direcionada, trata-a como o seu computador. Livra-a dos vírus e dos programas inúteis. Ela está a seu serviço, mas também não é tua. Converte-a em tua aliada, assim como o corpo físico e o emocional. Um dia prestarás contas de tudo isso. Dá-lhe trabalho, utiliza-a para se ligares ao computador central, mas dá-lhe descanso também ou perderás tua máquina.

·        Olha teu conjunto, aprenda a gostar dele, ou seja, de Si, aprenda a gostar do próximo sem julga-lo, em face disso ama a Deus e sê-LHE eternamente grato.

·        O amor é sempre o melhor canal para uma boa comunicação com o Alto.

·        Vive a vida, aprende a gostar dela pois é mais uma dádiva de Deus.

·        Ouse mais, lembre-se que sigla OSA, quer dizer “ousa” em espanhol.

·        Sê absolutamente sincero e honesto com teus instrutores e, mais importante, consigo mesmo.

·        Mantém tua mente e sentimento sempre nele.

É tudo,

                       Montes Claros, 25 de julho de 2004.



Swami Satyananda
3º Sarvayogacharya
Ordem dos Sarvas - OSA