sábado, 22 de junho de 2013

O DIREITO AO SUFRÁGIO E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

O DIREITO FUNDAMENTAL DO SUFRÁGIO E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA.
O Brasil, segundo a Constituição em vigor, é um Estado Democrático de Direito e, segundo o artigo 1º define como princípios fundamentais a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.
Todos os princípios são igualmente importantes, entretanto, para esta palestra, destaco o caput “Estado Democrático de Direito!”, “cidadania” e o “pluralismo político”, em seu sentido amplo, ou seja, político estrito senso, religioso, cultural, etc.
Ora, o estado democrático de direito não se estabelece, por óbvio, sem a participação popular, sendo que dentre os diversos sentidos e componentes da cidadania, está o direito ao sufrágio, ou a participação popular.
Sem tais princípios os demais não se estabelecem.
É por isso que no parágrafo único do mesmo artigo 1º, fica estabelecido que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos diretamente”. (nos termos da constituição).
Sufrágio é escolha, sufragar, portanto, é escolher. Em se tratando da escolha dos representantes, segundo a constituição, esta se faz pelo voto. Logo, voto e sufrágio não são sinônimos, mas um é o meio de realização do outro. O sufrágio é universal, porque é o direito de qualquer popular que se encontre nos termos da lei, bem como o voto é direito e secreto.
Portanto, o direito ao sufrágio é um direito fundamental, que, certo sentido, juridicamente falando, precede aos demais. Ou seja, sem o exercício válido deste direito, inexiste o Estado Democrático de Direito e, por conseguinte, todos os princípios que lhe são inerentes, não havendo como estabelecê-los ou fazer valer tais ideologias na realidade fática cotidiana.
Assim também o entende José Jairo Gomes na sua obra o Direito Eleitoral (Del Rey).
É justamente o vício constante nos períodos eleitorais, que faz com que a idéia da democracia participativa se imponha a cada dia.
Na democracia representativa, no entanto, o voto não exerce uma decisão política direta, mas fornece o poder para que outros cidadãos realizem a sua função de administrador público e legislador, na qualidade de seus representantes.
A democracia direta, só subsiste na região de Cantão na Suíça, que conserva um órgão de deliberação que se reúne uma vez por ano, mas pode ser convocado a qualquer tempo extraordinariamente, (Landersgermeinde). A pauta de discussão é publicada antecipadamente pelo Conselho Cantonal.
Para Montesquieu “o povo era excelente para escolher, mas péssimo para governar”. Precisava o povo, portanto, de representantes, que iriam decidir e querer em nome do povo.
Eis a idéia básica que faz surgir á democracia representativa.
Entretanto, embora representativa, existe na nossa Constituição institutos típicos da democracia participativa, como o referendo, o plebiscito e da iniciativa popular.
O referendo é utilizado para a aprovação popular de EC ou LO, elaborada pelo legislativo. O plebiscito antevê a elaboração de leis e é, portanto uma consulta prévia. A iniciativa popular garante ao povo o poder de propor leis ou emendas a Constituição, que serão submetidas a votação como os demais projetos.
Entretanto, o voto, como forma de sufrágio, é o mais popular e comum método de escolha dentro de uma democracia, predominantemente, representativa.
Daí porque a supressão deste exercício, pelo cidadão, pode ser  gravíssimo e representar uma violação ao direito de escolha e, até, violação deste direito que reputo fundamental a ponto de por em risco o Estado Democrático de Direito.
        Só abordei tal assunto para demonstrar a impraticabilidade do exercício contínuo e absoluto da democracia participativa em Países que sejam compostos por uma sociedade heterogênea e numerosa, sem contar o vasto território brasileiro, especificamente falando.
Mesmo assim, como já foi dito, existem mecanismos previstos na Constituição Republicana que preveem o exercício da democracia participativa.
Evidentemente as manifestações pacíficas, são, também, uma forma legítima de influenciar, democraticamente, quanto às questões de interesse do cidadão, assim como a atuação de entidades não governamentais como as ongs, associações de bairro, classe, etc.
Por outro lado, a democracia exige a presença de partidos políticos, forma legítima de organização em torno de um conjunto ideal sistematizado, para que o eleitor possa escolher seus representantes. É assim no mundo inteiro.
A tentativa de excluir os partidos políticos do processo democrático só servirá para desestabilizar a democracia.
Entretanto, é preciso repensar a organização, não só administrativa, mas ideológica, programática e, principalmente, pragmática destes partidos.
O DIREITO FUNDAMENTAL DO SUFRÁGIO E A ATUAÇÃO DO JUIZ ELEITORAL.
O Brasil, segundo a Constituição em vigor, é um Estado Democrático de Direito e, segundo o artigo 1º define como princípios fundamentais a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.
Todos os princípios são igualmente importantes, entretanto, para esta palestra, destaco o caput “Estado Democrático de Direito!”, “cidadania” e o “pluralismo político”, em seu sentido amplo, ou seja, político estrito senso, religioso, cultural, etc.
Ora, o estado democrático de direito não se estabelece, por óbvio, sem a participação popular, sendo que dentre os diversos sentidos e componentes da cidadania, está o direito ao sufrágio, ou a participação popular.
Sem tais princípios os demais não se estabelecem.
É por isso que no parágrafo único do mesmo artigo 1º, fica estabelecido que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos diretamente”. (nos termos da constituição).
Sufrágio é escolha, sufragar, portanto, é escolher. Em se tratando da escolha dos representantes, segundo a constituição, esta se faz pelo voto. Logo, voto e sufrágio não são sinônimos, mas um é o meio de realização do outro. O sufrágio é universal, porque é o direito de qualquer popular que se encontre nos termos da lei, bem como o voto é direito e secreto.
Portanto, o direito ao sufrágio é um direito fundamental, que, certo sentido, juridicamente falando, precede aos demais. Ou seja, sem o exercício válido deste direito, inexiste o Estado Democrático de Direito e, por conseguinte, todos os princípios que lhe são inerentes, não havendo como estabelecê-los ou fazer valer tais ideologias na realidade fática cotidiana.
Assim também o entende José Jairo Gomes na sua obra o Direito Eleitoral (Del Rey).
É justamente o vício constante nos períodos eleitorais, que faz com que a idéia da democracia participativa se imponha a cada dia.
Na democracia representativa, no entanto, o voto não exerce uma decisão política direta, mas fornece o poder para que outros cidadãos realizem a sua função de administrador público e legislador, na qualidade de seus representantes.
A democracia direta, só subsiste na região de Cantão na Suíça, que conserva um órgão de deliberação que se reúne uma vez por ano, mas pode ser convocado a qualquer tempo extraordinariamente, (Landersgermeinde). A pauta de discussão é publicada antecipadamente pelo Conselho Cantonal.
Para Montesquieu “o povo era excelente para escolher, mas péssimo para governar”. Precisava o povo, portanto, de representantes, que iriam decidir e querer em nome do povo.
Eis a idéia básica que faz surgir á democracia representativa.
Entretanto, embora representativa, existe na nossa Constituição institutos típicos da democracia participativa, como o referendo, o plebiscito e da iniciativa popular.
O referendo é utilizado para a aprovação popular de EC ou LO, elaborada pelo legislativo. O plebiscito antevê a elaboração de leis e é, portanto uma consulta prévia. A iniciativa popular garante ao povo o poder de propor leis ou emendas a Constituição, que serão submetidas a votação como os demais projetos.
Entretanto, o voto, como forma de sufrágio, é o mais popular e comum método de escolha dentro de uma democracia, predominantemente, representativa.
Daí porque a supressão deste exercício, pelo cidadão, pode ser  gravíssimo e representar uma violação ao direito de escolha e, até, violação deste direito que reputo fundamental a ponto de por em risco o Estado Democrático de Direito.
A democracia representativa deve conduzir ao poder aqueles que o povo realmente quer, evitando-se a fraude, corrupção e outras situações danosas, que venham a macular a vontade popular, inclusive com meios de propaganda ilícita e outras formas de pressão sobre o eleitor, o verdadeiro protagonista do processo eleitoral. (Marcus Vinicius Furtado Coelho, Direito Eleitoral e Processo Eleitoral).
Os vícios da cidadania interferem no seu exercício efetivo, que é desenvolvido por meio da soberana participação de cada um dos membros da sociedade. Não há democracia sem tal participação
É uma reflexão, seguida de ações concretas, que devem,  à partir das manifestações populares, advir da iniciativa dos próprios partidos e seus membros, sempre, como já ficou demonstrado, ouvindo a sociedade à qual pretendem representar.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

O MITO DA ILUMINAÇÃO


O MITO DA ILUMINAÇÃO


Durante séculos e séculos homens e mulheres vem buscando aquilo que se denominou “iluminação”.
Por ela fazem e fizeram sacrifícios, renúncias, austeridades, dietas alimentares, vestes modestas (algumas não muito discretas), abstinência sexual e alimentar (jejuns) etc., mas quase sempre sem resultados efetivos.
Acreditam que devem se tornar algo diferente do que são.
Além disso, outros (não todos) lutam contra uma mente inquieta, acreditando que ao silenciá-la haverão de experimentar o inefável.
Existem também aqueles que acreditam que orando e sendo “bonzinhos” haverão de abrir as portas da sempre dita, mas desconhecida, “iluminação”.
Dizem alguns que é o inefável, a luz suprema, a paz absoluta, o amor incondicional, a suprema realização, a sabedoria sem limites, a eterna e ilimitada beatitude e felicidade suprema, etc.
Tais questões e afirmações alimentam o imaginário das pessoas por gerações e gerações. Alguns sonham com ela assim como jovens sonharam um dia com um príncipe montado em um cavalo branco.
Pois bem, isso é um mito, uma crença, um desejo tão perigoso como o que encantam as mentes pervertidas ou viciadas.
Por quê? Porque é uma ilusão que reverbera em um desejo, o desejo de ser, de possuir, de gozar, mas sempre uma mera ilusão e um simples e comum desejo que ornamos com as vestes da sublimidade.
Quimeras que alimentam nosso ego e nos apartam da realidade.
Sempre estamos a espera de algo que nos torne melhor em todos os sentidos, algo que nos torne imune a dores ao mal e nos traga a permanente graça.
Ora, o que existe de real é a nossa humanidade, nossa natureza humana. Somente a compreensão do que se é, em essência, importa.
Não há razão para alimentar a mente com pretensões visionárias, que prometem um vir a ser, um paraíso pos mortem, metaforicamente falando.
A iluminação extraordinária e espetacular é uma ilusão, mas a realidade humana, de nossa natureza está em nosso íntimo para ser explorada e reconhecida, apenas olhando para ela de forma real, sem julgamentos, sem palavras e sem expectativas.
É o que é.


Swami Satyananda






segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Arte Sequencial e a Mente Abstrata

ARTE SEQUENCIAL E MENTE ABSTRATA



Alguns dirão que a arte seqüencial é para mentes simples ou despreparadas.
Não quero rebater tal argumento com a alegação de sua difusão não só nos meios de comunicação como educativos, culturais e artísticos de países tais como Japão, França, Bélgica, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, etc., o que é um fato, porque seria mero argumento de autoridade.
A fácil penetração da arte seqüencial em mentes infantis, se deve a razão destas possuírem mentes mais fluídicas e abstratas.
Desde temos imemoriais, o homem tenta transmitir suas verdades (história, contos, idéias) por imagens ou ideogramas.
Isto se dá porque a idéia ultrapassa as palavras e a linguagem (quem estudou tal questão sabe), é mais do que a verbalização ou manifestação via verbetes, mas é gestual, tonal, ideográfica, etc.
A idéia, que é abstrata, não pode ser transmitida, em sua íntegra pela palavra cunhada sobre o papel, mas a imagem, o símbolo em seqüência, muitas vezes agregado à palavra pode.
Daí que somente uma mente alerta, ágil e criativa pode compreender, em profundidade esta forma de expressão.
Um exemplo claro da linguagem e sua formas, fora da arte seqüencial, encontra-se na filmografia de Chaplin, que era compreendido na sua expressão lingüística e idearia, em profundidade, prescindido da palavra.
A mente alerta, adaptada à arte e nela se aprofundando, compreendia a essência da mensagem, de âmago para âmago.
Assim é a arte seqüencial em profundidade, pois é também melhor compreendida e permite maior alcance á mente abstrata do que a que se assenta na concretitude.
É uma forma pura e profunda de penetrar nas mentes e corações humanos.



                                                                        Swami Satyananda

domingo, 26 de maio de 2013

A Arte Sequencial como Instrumento da Educação

A Arte Seqüencial como Instrumento da Educação



Will Eisner cunhou a expressão arte seqüencial, que me parece mais adequada para definir esta forma artística que, principalmente entre nós brasileiros é vista sob forte preconceito.
Se toda forma de amor vale a pena, toda forma de expressão também vale.
Curiosamente, em outros países não é assim. Na Austrália, por exemplo, as histórias do “Fantasma”, criação de Lee Falk, são adotadas nas escolas, pela sua precisão histórica.
Outra forma equivocada é pensar que a arte seqüencial é destinada a crianças e adolescentes.
Desde Robert Crumb, Art Spielgeman e outros, que já não é assim.
Aliás, o próprio Eisner fez belas crônicas da cidade de Nova Iorque e seus habitantes, que se constituem em crônicas sociais belíssimas.
No Japão, a arte seqüencial (chamados mangas), muito antes disso já eram lidos por pessoas de todas as idades, independentemente de sexo, classe social ou nível cultural.
Talvez isso se dê pelo forte entrelaçamento entre todos os aspectos da vida nipônica e a arte (a arte do chá, da caligrafia, artes marciais, etc.), bem como por se tratar de uma forma de expressão hideogramática como é o própria escrita japonesa, assim como a chinesa.
Em 1972 Keiji Nakazawa escreveu e desenhou “Gen Pés Descalços”, que conta a vida de Gen e sua família, habitantes de Hiroshima em 1945.
O enredo é autobiográfico e tem uma precisão histórica incrível.
Ressalta a imparcialidade de Nakasawa, que nasceu em Hiroshima em 1939 e, como Gen (seu alter ego), perdeu quase toda a família em 06 de agosto de 1945, pelo lançamento da bomba atômica (apelidada de little boy), pelo avião “Enola Gay”.
Nakasawa não vitimiza os japoneses e nem demoniza os americanos, mas revela  a insanidade da Guerra e adverte para o risco do patriotismo cego e irracional, que reverbera no fanatismo, seja de qual lado for.
Ele revela, ainda o sofrimento e a discriminação sofrida por aqueles que se opunham a guerra e tinham uma visão pacifista.
Depois de Gen, vieram outros aqui no ocidente e oriente, exemplos clássicos são Maus (ratos em alemão) de Art Spielgman, que relata o sofrimento dos judeus na guerra, sobretudo seu pai e revela o relacionamento complicado de Art e seu pai, bem como todo o sofrimento que este enfrentou durante a guerra, o campo de concentração, bem como a dificuldade de adaptação em face dos traumas sofridos.
Persépolis, por sua vez é a autobiografia de Marjane Satrapi e o sofrimento vivido no Irã desde o início do regime Xiita em 1979. Chegou a ser proibida nos EUA (o que por si já recomenda) e tornou-se filme de animação, tão premiado quanto á novela gráfica.
Joe Sacco, por sua vez, produziu reportagens de profundo valor informativo e histórico como Palestina e Saravejo, transformando relatos, depoimentos e fatos em imagens impressionantes que não poderíamos apreender por um texto jornalístico comum.
Por isso, precisamos superar o preconceito e adotar em nossas escolas obras como essa que reúne arte e informação em um só trabalho.
Creio que assim estaríamos avançando na metodologia educativa não só dos nossos alunos, mas como de nós mesmos.


                                                                            Swami Satyananda 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

CAPITALISMO, COMUNISMO, OUTROS ISMOS E A IOGA







Uma vez o Swami Vivekananda foi questionado quanto à forma pela qual a ioga poderia mudar o mundo. O Swami respondeu: “Quem vos disse que a função da ioga é mudar o mundo?” E prosseguiu que a meta era revelar-se, conhecer-se, por se ante o incomensurável.
O fato é que o mundo natural não foi criado pelo homem, mas a estrutura social e, digamos mundial o foi e essa, foi criada por ele e a isso chamamos, também, mundo.
Ele é fruto da mente concreta. Um conflito externo (desde a mais banal desavença, até a guerra mais violenta) não acontece sem que antes tenha nascido dentro do ser,
Todas as dores e incongruências da sociedade provêm dos conflitos e contradições da mente concreta.
O que chamamos de era agrária, nomadismo, era pré-industrial, era industrial (com todos os seus “ismos”: capitalismo, comunismo, anarquismo, etc.) e pós-industrial são frutos dessa mente limitada e limitante, dessa mente desgovernada e conflituosa.
Portanto, todas as suas soluções são ilusórias, temporais e conflituosas e não resolvem nenhum problema.
Somente uma mente pacificada e que se pôs diante do incomensurável, encontra a paz que as soluções ilusórias da mente concreta não nos proporciona.
A sociedade só muda se o ser, em seu íntimo, também mudar.



                                      Swami Satyananda

OS QUESTIONAMENTOS PARA O SARVA IOGUE




OS QUESTIONAMENTOS PARA O SARVA IOGUE



Uma questão que sempre fica no ar quando das relações com outras pessoas, em se tratando dos orientadores Sarva, é quanto à forma lacônica que tratam certos questionamentos.
Lembro-me que quando conheci meu Mestre, o Swami Sarvananda (Georg Krítikos), me assustei, à princípio, diante de sua forma lacônica de tratar tais assuntos e, na minha ignorância, entendi que se tratava de pouca disposição para responder perguntas.
Depois, com o tempo, verifiquei que não se tratava disso. Na verdade ele era bastante benevolente e paciente.
Hoje eu mesmo me vejo compelido a agir da mesma maneira.
A questão é que a verdadeira ioga não é uma digressão mental e ou intelectual, e nem filosofia. A relação com o instrutor ou orientador não consiste em um jogo de perguntas e respostas, mas em um vivenciamento constante, focado no presente, um estado de auto-observação e atenção perene e que vai se instalando gradualmente.
Ioga é vivenciamento perene, real, íntimo, realizada pelo ser e não por intervenção externa.
O objetivo da ioga é a meditação, e meditação não é uma prática, mas um estado espontâneo e consciente do ser, que não pode ser imposto de forma alguma.
O jogo de perguntas e respostas alimenta o ego e a mente corriqueira, que se torna, mais e mais, descontrolada e reforça a ansiedade, gerando o conflito do “vir a ser”.
Responder a certas perguntas é como jogar combustível no fogo, vai aumentar o incêndio ao invés de conte-lo ou extingui-lo.
Mais importante que respondê-las é o postulante se fixar e observar sua própria pergunta, seu questionamento, olhar profundamente para ele e sua origem.


A intervenção extemporânea na vida de uma pessoa cria a falsa ilusão de autoridade e só leva à encrudecimento da mente concreta.
Ninguém em sã consciência tenta libertar o pássaro ainda no ovo, previamente, pois só causaria a sua destruição, assim como ninguém desfaz o casulo da lagarta, para libertar a borboleta, sem mata-la.
A natureza faz o seu próprio trabalho, apressa-la causa somente danos ao ser.
Assim, quanto ao espírito humano, este só será despertado pela ação do próprio indivíduo e não pela intervenção de um elemento externo.
É como a parábola do Guru e do lenhador, que apenas recomendou ao último que seguisse em frente, que adentrasse na floresta, sem fazer qualquer alusão ao que seria encontrado, como, quando e o que fazer com a resultante.
Então é isso que compete ao orientador Sarva. Dizer, tão somente, segue em frente e adentra o mais profundo possível na tua floresta interna...
É tudo por enquanto.

Swami Satyananda

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Guru e o Chela II




O Guru e o Chela II



Parece estar claro que “guru” é a realidade transcendente interna, que se manifesta, podendo, todavia, repercutir externamente. Trata-se do real, que se manifesta sempre que a sombra da ilusão se manifesta.
Logo, a rigor, a idéia de guru e chela é ilusória, posto que é a pura manifestação do Uno que se faz dual por força do estágio mental individual.
Ninguém pode mudar ninguém, pois não existe o “transformar-se” em algo, mas apenas o eterno Ser, além do tempo e espaço.
Entretanto, insistimos na velha forma de ouvir de outrem (magister dix), o que fazer ou o que devemos nos tornar, o que faz de nossa existência uma constante insatisfação, frustração, competição, permeada por ansiedade por expectativas irrealizadas.
Vivemos o desejo do irreal e, portanto, irrealizável, quando basta olhar para si mesmo e a verdade se mostra.
Magister dix (o mestre disse), é um princípio falso de se atribuir autoridade a outrem e que nos conduz somente á infelicidade e frustração, dentro de um sistema ansioso e irrealizável, mas de pura ilusão.
Não podemos mudar a nós mesmos e menos ainda aos outros, mas tão somente encontrar a nossa realidade, sem nos impor a outrem, pois a ele  deve caber olhar para Si, com liberdade total.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O GURU E O CHELA

O Guru e o Chela



Já discutimos aqui que dharma quer dizer função (intrínseca) e que karma, que significa literalmente ação (ou conduta), é a resultante do exercício do dharma ou não.
É do exercício do dharma que surgem os relacionamentos. Na Sarva Yoga é dito que a realização é resultante da tríplice utilidade (ao Cosmo, a Si e ao próximo).
Evidentemente só existe a tríplice utilidade se o ser identificar e viver o seu dharma.
No Oriente, em especial na Índia, surge, dentre os relacionamentos espirituais, o estabelecido entre o guru e o discípulo ou chela.
Guru, literalmente, quer dizer o dissipador de trevas e, por isso mesmo, não é um indivíduo determinado, mas uma função interna que diz respeito a todo ser. Todos nós, em essência, temos um “dissipador de trevas”, um Guru, ou seja, a voz do discernimento, da consciência individual, o jivatman.
Entretanto, no jogo cósmico que se realiza no plano sensorial e material, muita vez, o ser interno identifica  em outrem o jivatman desperto e unificado.
Como tudo é a unidade, o guru externo e o interno são o mesmo, tratando-se de mero estratagema dos bhaktas (devocionais), projetar sua consciência no guru externo o jivatman  consciente.
Ramana Maharishi disse muitas vezes que não existia guru e chela e que todos eram o mesmo, mas ao ser perguntado por um dos residentes a razão de dar a upadesa (benção do guru) ele respondeu: Não existe diferença sob o meu ponto de vista, mas existe do seu.
O guru não comanda, não ordena, interage com o chela, ou o discípulo com ele, de modo que a realidade interna reflita no guru, e retorne clarificada para o postulante.
Entretanto a inteireza de tal relacionamento só é possível quando um ser realizado possui tal dharma e atrai naturalmente outros que possuem o karma/dharma correspondente.


O guru não ordena, comanda ou exerce uma função hierarquicamente superior, mas, tão somente, reflete a integralidade e harmonia que o chela, por sua prisão à ilusão dual não pode perceber em si e começa a fazê-lo por meio do Ser liberto que é o Guru.
Todavia, em determinado momento, ele deverá reconhecer a não dualidade e por termo ao relacionamento ilusório para compreender que apenas um age, apenas um vive e que o que está no outro, nele se encontra do mesmo modo.
No Ocidente e, pelo que soube, até na Índia tal relacionamento vem sendo distorcido.
Pela nossa conduta hierarquizada, subordinadora e autoritária, concebemos um guru que comanda os seus discípulos e que dele recebe honrarias, senão bens materiais, mas sempre esperando receber algo em troca.
Isso quando não é alguém com um viés de quiromante ou presdigitador.
O guru não é alguém que está ali para predizer o futuro ou dizer o que o discípulo deve fazer e menos ainda dar ordens ou exigir obediência.
A conduta autoritária de uns, a subserviência passiva de outros não são características de tal relacionamento e adulteração ou falseamento dele, além de se constituir em violação do dharma, trás graves consequências à psique dos envolvidos ou mesmo de natureza cármica.
A verdade é que para o ocidental pragmático e racionalista, é difícil viver tal relacionamento e a tentativa artificial de sua construção, em regra, violenta a natureza do ocidental e cria um arremedo de relação feudal (amo/servo), baseada no poder e não no amor transcendental, como deveria ser.
Por isso, vez por outra nos deparamos no Ocidente com os estragos de tal relacionamento e, mais ainda, com a alienação do discípulo e o retraimento do desenvolvimento humano, quando a realidade é o oposto.




quarta-feira, 17 de abril de 2013

Dharma e Karma II

Dharma e Karma

O dharma não pode ser despertado, ele está ligado ao conceito original de castas em vigor na Índia quando da elaboração do Bhagavad Gita. Ele pode apenas ser compreendido quando da consciência do Si.
A partir de então a cadeia de eventos que se seguem são deflagradas por uma consciência plena (karma).
O verdadeiro karma yogue agi em função de seu dever, dharma e nuna fundado em qualquer objetivo ou resultado.
No Ocidente, em razão da era industrial,  interpretou-se o dharma como uma questão profissional ou funcional e como somos individualistas, competitivos e nossa sociedade hierarquizada, causamos um conflito interno ao supor que o indivíduo sempre tem que produzir materialmente, galgar graus em uma carreira, etc. para que possa realizar o seu dharma.
Nada mais equivocado. Trata-se, simplesmente, á partir do Si, ocupar o seu lugar no Cosmo e nada mais, fazendo parte da rotação das engrenagens que permite a expansão da vida.
Com isso, para nós, como não poderia deixar de ser, o ocidental imagina que o karma é a reação das suas ações que sempre voltará para ele, mas na verdade, não existe este ele, e as ações giram em torno do eixo central que expede e recebe vida eternamente.
Pensa, ao interpretar as leis do renascimento, que aquela mesma personalidade haverá de incorporar  de novo a matéria e dar continuidade à sua saga.
Para o budista e o hinduísta original, tudo se passa em função da expansão contínua da vida que se manifesta, constantemente, na matéria densa ou sutil.
Muitos renascimentos implicam na manifestação constante da Vida no plano mais denso e, toda vez que a Vida abandona aquela parcela de matéria, ela retorna em outra, ou em outras, tudo em razão da funcionalidade (dharma e karma).





O maior ato de ahimsa (não violência) consiste em compreender quem é e viver de acordo, pois de outra forma viveremos a eterna agressão de auto violentar-se, gerando todas as etapas de violência posteriores.
A maior experiência de satya (verdade) é viver de acordo com a real e profunda consciência do Si.
O maior sacrifício (sagrado ofício ou fazer a coisa sagrada), é viver de acordo com o seu dharma, cumprindo, pois o karma individual e coletivo.
Essa é a essência do pensamento constante no Bhagavad Gita quanto á tais conceitos e princípios.
Cabe a cada um vive-los na medida de sua compreensão.
Só assim haverá Paz no coração do Ser e, por conseqüência, no mundo.
Como saber se vive na consciência plena e se vive conforme o seu Dharma?
Existe conflito interno, violência nos recônditos da mente, a paz e a harmonia não estão presentes? Então esta parte do Ser permanece intocada






segunda-feira, 15 de abril de 2013

DHARMA, UTILIDADE,KARMA E REENCARNAÇÃO

DHARMA, UTILIDADE, KARMA E REENCARNAÇÃO



Pode parecer paradoxal, mas este texto não pretende responder ou esclarecer qualquer coisa em relação aos temas que compõem o seu título, mas apenas demonstrar o seu caráter conceitual e histórico, para que o leitor possa meditar sobre o assunto.
Talvez o texto oriental que demonstre de forma mais clara e incisiva o conflito entre tais temas seja o Bhagavad Gita (Divina ou Sublime Canção, conforme a tradução).
O nosso panorama se revela quando Arjuna, aterrorizado por ter que enfrentar os seus parentes e amigos no campo de Kurukshetra, diz a Kirishna (um avatar ou encarnação divina), que não lutará e atira o seu arco ao chão.
Daí surge toda a questão, pois Arjuna nasceu um Kshatrya (classe dos guerreiros), daí decorrendo o seu dharma.
Como guerreiro, sua função é bater-se no campo de batalha, pois para isso foi preparado toda a sua vida, entretanto, quando se depara com a situação real, posto que teria que suprimir a vida daqueles a quem amava, questiona a validade de tudo aquilo.
Krishna, entretanto,o convence, fazendo-o ver a partir de seu dharma.
Vejam que o princípio em questão, liga-se ao sistema original de castas, pois se alguém já nasce com determinada função, deve cumpri-la.
A casta não diz o que o ente é, mas qual o seu dever, sua função e, portanto, ele deve realizá-lo com devoção, entrega, determinação e sapiência.
Arjuna era um guerreiro e para isso foi preparado, visto que esta é função (dharma) que lhe coube naquela existência.
Assim, cabe a cada qual exercer a sua função ao longo de sua existência, encontrando sua realização nela.
Nada do que tinha se passado na vida de Arjuna, até aquele momento tinha fim em si mesmo, senão para conduzi-lo ao campo de Kurushetra, onde ele iria viver o momento culminante da sua existência.
Entretanto, naquele momento surgiu o conflito.
Curiosamente, Arjuna se sentia realizado e útil até então, mas na verdade sua utilidade era ilusória, posto que ainda não travara as batalhas para as quais fora preparado.
Contudo, agora ele se recusava a ir à luta, e tudo por apegos e convenções sociais.
Foi naquele momento crucial que a verdade se revelou a Arjuna por meio de Krisnha, o seu Guru (dissipador das trevas) e condutor de seu carro.
Curiosamente, o momento em que o Ego se sente mais enfraquecido, se sente inútil e sem saída, é também quando, na maioria das vezes a verdade se revela.
Muitas vezes nos sentimos inúteis e procuramos refúgio em uma atividade paralela ao invés de por nos à nu diante de nós mesmos.
Domenico de Mais, no seu livro “O Ócio Criativo”, comenta o fato de que algumas pessoas dão empregos à jovens que se limitam a apertar botões dos andares do elevador, para lhes dar uma falsa noção de dignidade e de utilidade.
Tal questão se torna mais grave, quando a noção de utilidade que temos no ocidente nada tem a ver com a noção do Dharma vinda do oriente.
Enquanto o Dharma diz respeito à função íntima espiritual do ser, seu lugar no jogo cósmico da existência, a “utilidade” do ocidental se refere á importância da pessoa (escrevi pessoa de propósito) para o capital e meios de produção.
Sob a ótica do capital talvez Ramkrishna, Buda, Jesus, Ramana, Aurobindo, Krishamurthi e outros não teriam utilidade nenhuma, mas sob a ótica oriental do Dharma, ou seja, sua função no jogo cósmico, a resposta é outra.
Obviamente, o conceito de karma se liga ao de dharma, visto que o exercício da função faz girar as engrenagens cósmicas para o funcionamento de tudo quanto existe.
Karma nada tem a ver com punição, mas com o entrelaçamento das condutas de todos os entes que existem em todos os planos da existência e que, por isso, fazem girar a roda eterna da vida.
Com diz Ram Dass no seu livro “Caminhos para Deus”, é como a expansão da maré, das ondas e marolas, isso é o Karma e a expansão das águas a reencarnação.
Reencarnar é o nascer renascer da vida que é una e eterna.

quarta-feira, 13 de março de 2013

HUMILDADE, SIMPLICIDADE E O HUMILHAR-SE


HUMILDADE, SIMPLICIDADE E O “HUMILHAR-SE

“Bem aventurados os humildes, pois deles será o reino dos céus” (Mateus 5:3)
“Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado” (Mateus 23:12)

Durante séculos a humildade tem sido elevada ao grau máximo entre as virtudes, sobretudo no que diz respeito à cristandade.
Junto dela sobreleva-se, como se sinônimo fosse, a simplicidade enquanto virtude.
Todavia, o significado que se lhes atribui não corresponde, na maioria dos casos, ao sentido e significado original de tais vocábulos.
A humildade é confundida com a parca situação econômica do ser humano a quem se destina tal alcunha, ou, por outra, á uma postura servil ou subserviente, para não dizer passiva.
Os textos bíblicos acima tem levado um grande número de Cristãos a entender que uma vida servil e passiva será recompensada e que uma Divindade se regozija com a humilhação (no sentido de degradação) de seus entes criados, e lhes premia por isso com a sua exaltação.
Cumpre dizer que a palavra humildade significa, em sua,  origem e literalidade “solo fértil” e vem de “húmus”, em sentido estrito, solo sobre nós.
Humus é aquele sobre solo que, posto pelo tempo (resto de folhas mortas, corpos, etc.) sobre o terreno, o torna fértil.
Humildade é, pois, a qualidade de estar aberto, fértil ao recebimento da “semeadura” ou de favorecer a sua fertilização.
É a notória questão entre a “xícara cheia” e a “xícara vazia”, entre os chineses, posto que aquele que se encontra com a “xicara cheia” não permite a introdução de nada mais em seu recipiente.
Assim como diziam os discípulos de Ramakrishna, “a graça do Senhor é como a chuva que cai sobre todo o vale, mas só brota e frutifica o solo fértil e semeado”.
Assim, humilde é aquele que se permite a semeadura e crescimento da vida que lhe outorga a natureza.
O seu oposto é aquele que cultiva o solo árido e seco, como se bastasse a si próprio, negando-se à vida e ao saber.
Quanto ao termo “simplicidade” ou “simples”, sua origem está no latim, “simplex”, e quer dizer único, único ou, até mesmo, ímpar.
É a qualidade daquilo que não é composto, e, dependendo da conotação, pode até ser um atributo negativo.
Positivamente falando, é aquele que  não comporta divisões e se liga, no nosso entendimento, á integralidade e indivisibilidade da essência, ou seja, do SER.
Resta-nos, ainda, esclarecer que o vocábulo “humilhar”, em face da raiz etimológica com “humildade” e  “húmus”, significa fazer-se humilde.
Se por vezes é dolorido este processo, este se deve à complexidade de se transformar solo árido e seco em um solo fofo e fértil, cheio de húmus.
Exaltar, do latim ex, que é um prefixo para designar “além” ou “acima”,  e altar de altura, quer dizer colocar-se além da própria altura.
Assim, aquele que for humilde, ou seja, que se permite fertilizar e frutificar, será colocado além da sua própria altura original e herdará o Reino dos Céus, que, segundo o Senhor Joshua, está dentro de nós (potencialmente), mas, dinamizado, será a nossa herança.
Em face disso, estará além da sua própria dimensão humana, para comungar com o Divino.
Entretanto, aquele que se exalta por se bastar, será feito humilde pelos processos da natureza, para que o seu solo seja fértil e o que existe em potencial seja dinamizado, quando ultrapassadas suas estreitas dimensões.
Humildade é questão de consciência.
É questão de PARAR, simplesmente, abrir-se, simplesmente, VIVER, simplesmente, ao invés de querer, debater-se, impor-se, desejar, fixar-se e obstinar-se em suas próprias convicções.
É entrar no mundo da real meditação e do encontro com o SAGRADO, que, encontrando solo fértil, fecunda, desenvolve e se estabelece na integralidade daquele solo penetrado pelo húmus.




sábado, 2 de março de 2013

AS PESSOAS QUE VIVIAM EM MIM


AS PESSOAS QUE VIVIAM EM MIM



JÁ NÃO SOU QUEM UM DIA FUI. MELHOR DIZENDO, EM MIM NÃO MAIS HABITAM AS PESSOAS QUE UM DIA HABITARAM O MEU INTERIOR.

OS QUE VIVIAM EM MIM NÃO EXISTEM MAIS.

DELES RESTAM POUCAS LEMBRANÇAS E NENHUMA SAUDADE, POR ISSO NÃO OS PROCUREM AQUI...



                                                                                    SATYANANDA

O HOMEM MODERNO, A LINGUAGEM E A MEDITAÇÃO

O  HOMEM MODERNO,  A LINGUAGEM E A MEDITAÇÃO



Como já foi dito em outro texto já postado neste blog, segundo Lacan o homem é formado pela linguagem, todavia, não é o ser humano que é assim formado, mas a pessoa ou persona.

Antes de qualquer coisa, deve-se definir linguagem não só como o emprego da palavra oral ou escrita, mas como toda manifestação, vocal, tonal, gráfica, gestual, etc, que vise a comunicação de ideias ou fatos a outrem.

Assim, o homem é um transmissor, via linguagem, de ideias e experiências, contribuindo para a formação da persona que se desenvolve no outro.

Entretanto, como são muitas as trocas e fragmentadas as ideias, são muitas as pessoas que habitam um único ser.

Logo, ao invés de existir uma pessoa, o fato é que muitas habita o mesmo involucro.

Este grupamento que vive em nós, sufoca e não permite que o ser essencial se manifeste.

Experiências recentes comprovam que "a pessoa" não é una, mas fragmentada, situando-se em partes diversas do cérebro que são acionadas de acordo com a situação que se apresenta.

A sensação de unidade é, portanto, apenas aparente e ilusória.

Em face disso, percebe-se que somente a "concienciação" (sarvaneologismo)  pura permite o afloramento do que é real.
Entretanto, se  "a pessoa" (já sabemos que são muitas), é criada pela linguagem, pode-se dizer que o diálogo meditativo é uma forma de desconstrução dessa mesma persona.

É só, por enquanto... 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O MONGE E O ESCORPIÃO


O MONGE E O ESCORPIÃO[1]


Certa vez um monge idoso caminhava pelas proximidades da margem de um rio, quando percebeu que um escorpião deslizara para a água e estava prestes a se afogar.
O velho monge, então, apressou-se em recolher o escorpião, todavia, no afã de salvá-lo, ousou tocá-lo e, por isso, terminou por ser ferroado.
Em razão da dor, o monge, instintivamente, largou o escorpião que tornou a cair n’água.
Recuperado do susto, o monge, então, mui diligentemente, apanhou dois gravetos e retirou o escorpião das águas, devolvendo-o à segurança do solo firme.
Então, um jovem Chela[2] que o acompanhava perguntou ao velho monge, por que salvar um ser que só possuía peçonha em si e que acabara de ataca-lo.
O Mestre prontamente respondeu: “Ele tem a sua natureza e eu tenho a minha”.
É só.



[1] Este conto é dedicado àqueles que questionam a natureza alheia e as razões de suas ações;
[2] Chela é discípulo ou noviço;

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A BUSCA II

A BUSCA II


Na data marcada, meu amigo, que tinha ido na sala de yoga do Swami, me ligou informando que ele tinha deixado um envelope para cada um de nós.

Dirigi-me para a casa dele e me surpreendi ao perceber que era a nossa primeira instrução espiritual.

Era denominada de instrução probacionista número "um" e isso me deixou muito feliz.

Mas, confuso como sempre, não comecei na data indicada pelo Swami e, por isso, a data teve que ser remarcada.

Fomos, ambos, em uma quarta-feira à sala da rua Goitacázes, 43 e informamos que não iniciáramos a prática na data, razão pela qual ela foi remarcada, o que foi a primeira, mas não a última prova de paciência do meu Mestre para comigo.

Devo dizer que, naquela oportunidade, ao adentrar na sala, percebi que estava em um ambiente totalmente diferente e indescritível para mim.

Fomos embora e, desta vez, na data aprazada, começamos a prática, e então eu nunca mais parei...

Por enquanto é tudo. Até a próxima.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Carta a Um Amigo



Caro D.,

Não são perguntas fáceis de responder, visto que são questões abstratas e que navegam no plano da mente abstrata.

Talvez o livro “Androgonia” do Swami Sarvananda possa te ajudar um pouco, mas o essencial virá do seu interior, da sua percepção e da sua consciência.

Percebo que você ainda procura respostas, aliás, respostas objetivas, o que não se obtém por meio da meditação e menos ainda no plano do abstrato, onde tudo é, por natureza, subjetivo.

Espero que você perceba que tudo resulta de emanações e, portanto, está ligada a causa primeira.

Antes, porém, vamos esclarecer algumas coisas que tem sentido diverso para os iniciados do que para o homem comum:

Mente = função gravadora e acumuladora de informações e impressões que é acionada quando da primeira inalação e prossegue até a última.
Alma = conjunto de impressões, informações, sentimentos e emoções que se acumulam entre o corpo vital e o causal (vital, astral ou emocional, mental, causal).

Espírito = centelha imortal, dínamo posto no ser humano, parcela ou fagulha divina inserida no homem.

Personalidade = conjunto externo de atributos formados pelas impressões da mente humana, sentimentos, informações e aculturamento.

Individualidade = a essência que realmente distingue o ser humano, o ser básico.

Emoção = emanação do plexo cardíaco que provém do espírito.

Sentimentos = emanação uma oitava abaixo das emoções que provém do plexo acima do solar, na altura da boca do estômago, às vezes deturpação da emoção, ora proveniente da personalidade.

Muito bem, para simplificar, de emanação em emanação, o espírito foi gerado.
Esta geração, também geradora, em face da sua essência e origem, sabe-se lá porque, enamorou-se do mundo material ou caos como querem alguns.

É preciso que se entenda que o espírito, assim como os seus geradores, é uma função cosmogônica.

É preciso que se entenda que a função não diz respeito á creatura, mas ao Creador.

Quando o projetista faz o projeto, só ele sabe a razão e a funcionalidade, entretanto, ao projetado cabe, tão somente, ser ele mesmo.

Assim também é conosco. Dizem que somos batedores do universo, emanadores de luz, felicidade etc, mas temo que nenhum de nós sabe ou deve saber o que se passou com o nosso projetista.

O fato é que nós, ao nos aproximarmos deste plano criamos mecanismos para funcionar, começando com os corpos, do mais sutil, ao mais denso, a fim de dar funcionalidade neste plano.

Sendo assim, em certo sentido, o corpo físico, que reúne todos os demais no mesmo plano é uma emanação, ainda que longínqua do espírito.

Ele não deve ser desprezado, visto que tem a função precípua de reunir todos os planos em um e permitir que operemos em todos eles, o que não seria possível em outras esferas.

Assim, em um sentido, ele faz parte de nós, mas perde a sua função, com o tempo, assim como células velhas.

É através dele que se dá espiritualização deste plano.

E para que isso? Pergunte ao Projetista. Eu só sei que somos assim e com essa função.

Vou dar uma idéia. A Luz existe não é? Pela manhã você vê isso, e à noite também (lua, estrelas, etc.).

Entretanto, se você quiser capturar um pouco de luz para iluminar este plano, você vai precisar de algo material.

Imaginemos uma lanterna. Você precisa do corpo dos fios, da lâmpada e da bateria, par obter luz.

Vejamos:

Luz = espírito
Lâmpada = alma
Bateria = energia nervosa
Fios = sistema nervoso
O corpo = corpo físico.

Agora responda, teríamos luz na lanterna sem estes componentes? Não, é óbvio, mas a luz existe independente deles, mas eles só existem por causa da luz.

A nossa única diferença é que a própria luz cria estes componentes.

Sem eles, você não acende a luz neste plano.

 A maioria das pessoas é como uma lanterna que, tendo todos estes componentes está desligado e não sabe ligar. Entretanto, são lanternas.

Existem, pois, dois tipos básicos, os que ligam e os que não ligam.

O único “defeito” de alguns é não saber que podem iluminar.

Veja bem, uma lanterna acorda de manhã, faz café, põe o lixo para fora, vai trabalhar ou estudar. Encontra outras lanternas, parentes amigos, acesos ou não.

Digamos que um dia ele descubra que pode acender. Então ele prossegue fazendo o mesmo, só que passará a lançar luz por onde passa, modificando, consideravelmente, o ambiente.

Agora, a cada lanterna é dada uma individualidade, conforme a sua missão, que não lhe pertence, mas sim ao Projetista.

Uma é um farol, para iluminar o mar á noite, outra uma pequena lanterna para o automóvel quando este der defeito à noite, etc.

Embora umas pareçam maiores que outras, elas emanam a mesma luz e a luz de uma não é mais luz ou menos luz que a de outra.

É essa consciência cotidiana que o zen trata e almeja.

Conhecendo-se, acabará por descobrir, como efeito colateral a tua missão.

Aceitar-se e não almejar ser o outro é fundamental.

Se alguém é um farol e você apenas uma pequena lamparina, o que te importa isso? Você é o que foi projetado e isso é o fundamental e, sendo assim, és perfeito, tanto quanto o outro.

O problema é fixar-se no que realmente importa: acender a luz na proporção do que me foi dado fazer.

O destino da luz pertence ao projetista.

Então, neste plano, o corpo físico tem uma função preponderante e nada pode ser feito sem ele.
Se o fio se rompe, se a bateria se acaba (energia nervosa); se o corpo se parte; ou a lâmpada se quebra, não teremos luz.

Assim, o corpo está conectado a alma que o criou, como o filho à mãe, e esta ao espírito imortal.

Num certo sentido, tudo faz parte do todo, pois nada se perde, apenas se transforma.

Alguns dizem que luz é matéria sutilizada, outros que a matéria é luz condensada. Seja como for, ambas são parte do todo e iguais em essência.

Medite nisso.

Espero ter sido de alguma utilidade.

Paz, luz e saúde (do corpo e da alma).





Swami Satyananda
Sarvayogacharya