Nirbikalpa Samadhi : A Porta de Entrada
Existe
sempre, entre os ocidentais, o questionamento quanto à importânica do samadhi e
suas variações ou se ele seria essencial ou não.
A
resposta, como não poderia deixar de ser, é depende de cada caso.
O
Nirbikalpa Samadhi, o êxtase maior e poucas vezes alcançado é na verdade a
porta de entrada ao Reino da Mente Abstrata.
Verifica-se,
segundo Ramakrisnha e outros, que ao realizar o samadhi, existe o com forma, o
estado dual, ou seja, o que adora e é adorado, o que observa e é observado, o
que serve e o que é servido.
Todavia
segundo o Mestre citado, tendo ele permanecido três dias em Nirbikalpa,
deixou-nos o seguinte comentário: “...tão logo a forma graciosa da Mãe Divina
apareceu, usei minha discriminação como uma espada e a parti em dois pedaços.
Não havia então mais nenhum obstáculo diante da minha mente, que voou
imediatamente para além do plano das coisas condicionadas...”
Observando-se
atentamente as palávras do Bendito Senhor, verificamos que, respeitosamente,
ele demonstra que necessitou se libertar
da imagem da Divina Mãe, mais ainda declarou ser ela um obstáculo e situou-a,
ainda, dentro do plano das coisas condicionadas. Só então ele conheceu o
incondicionada, consoante suas palavras:
“O
universo apagou-se. Nem mesmo o espaço existia. A princípio, idéias sombrias
flutuavam ainda sobre o fundo obscuro da mente. Somente a consciência débil do
eu repitia-se, monotonamente...Depois, isto também cessou. Havia apenas a
existência. A alma perdeu-se no Si (o Self). Todo dualismo desapareceu. O
espaço infinito e o espaço finito eram Um. Além das palavras, além do
pensamento, a união perfeita com Brama.”
Portanto,
só se atingi tal ponto depois de libertar-se de toda a forma e toda imagem, o
que só se faz se atingir a um grau de renúncia e desapego muito elevado.
Este é o
ponto do qual não se tem retorno. Todavia, não se trata de um retorno físico ou
mesmo da permanência em êxtase constante. Nada tão superficial ou simplorio.
Acontece que o indivíduo, a partir de então, conforme citação acima, passou a
navegar no não dual, razão pela qual sua individualidade e consciência eclodem,
fazendo desabrochar o Ser Interno, que permanecerá. Já não há mais
separatividade.
Assim,
para os observadores externos, surgirá um novo homem, ocupando o lugar do que
antes ali estava. Por isso não há mais retorno.
A Divina
Presença é uma constante e na natureza vislumbra a sua perfeição.
O samadhi,
mesmo o nirbikalpa não tem importância em si mesmo, senão para provocar a eclosão
da consciência e o afloramento da Mente Abstrata.
A
tentativa vã de atingir-se um estado de “gozo” permanente é ilusória e
medíocre, como bem salientou o Senhor Ramakrishna ao recusar o pedido de seu
discípulo Vivekananda que queria permanecer no êxtase (nirbikalpa) : “Que
vergonha, como pode dizer essas palavras! Pensei que você fosse um enorme
recetáculo de vida e você deseja permanecer absorto na sua alegria pessoal,
como um homem comum!”
Assim, o
desejo de permanecer no êxtase, da repetição constante é uma pretensão pequena
e medíocre. Aliás, não se verifica casos de repetição do nirbikalpa, visto que
sua utilidade se perde após a eclosão da consciência.
Sequer é
ele a única porta de entrada, o que,
inclusive é confirmado por Ramakrishna na sequência da resposta
oferecida ao Swami Vivekananda: “...Esta realização se tornará tão natural,
pela graça da Mãe, que você realizará a divindade única em todos os seres. Você
fará grandes coisas no mundo: dará aos homens o conhecimento espiritual e aliviará
a miséria dos humildes e dos pobres.”
Mais tarde
Vivekananda confirmaria as palávras do Mestre: “...Todas as coisas são boas e
belas porque perderam sua relatividade. E meu corpo, antes de tudo... Esta
existência! ...” A rigor a palavra existência deveria estar com letra
maiúscula, posto que se referia à Existência e não à sua existência particular.
Antes de tudo vem a Existência...
No ponto em que chegou Ramakrishna não há
mais separatividade, nem mesmo entre os sexos, posto que as mulheres não
distinguiam e nem os homens, assim como ele não se distinguia e nem os
distinguia também.
Não se
trata da simples abstinência sexual, que em certos casos pode nem chegar a existir, mas de deixar de
enxergar e perceber as pessoas pela ótica da separação de sexos e, mais ainda,
viver como um Ser único sem pensamentos masculinizados ou feminilizados. Assim,
emoção, sentimento e mente se encontram acima da separatividade sexual,
territorial ou racial. Torna-se um Ser
Universal.
O Cristão
puro, encontra seu caminho através da graça do Altíssimo, da entrega
incondicional e do auto sacrifício. Não é interessante que o Cristianismo puro,
desde a sua origem remota, nunca buscou o apoio de imagens externas?
Avançado
em todos os sentidos o Cristianismo sempre predicou posicionamentos espirituais
avançados, seguidos de práticas espirituais e morais que traduzem sempre um
amor puro e elevado ao Alto e ao próximo, sem devaneios ou muletas.
É tão
profundo e sutil o seu sentido, que cada um deve meditar por si mesmo e eu devo
parar por aqui.
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