sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Nirbikalpa Samadhi - A Porta de Entrada



Nirbikalpa Samadhi : A Porta de Entrada

                       
                        Existe sempre, entre os ocidentais, o questionamento quanto à importânica do samadhi e suas variações ou se ele seria essencial ou não.

                        A resposta, como não poderia deixar de ser, é depende de cada caso.

                        O Nirbikalpa Samadhi, o êxtase maior e poucas vezes alcançado é na verdade a porta de entrada ao Reino da Mente Abstrata.

                        Verifica-se, segundo Ramakrisnha e outros, que ao realizar o samadhi, existe o com forma, o estado dual, ou seja, o que adora e é adorado, o que observa e é observado, o que serve e o que é servido.

                        Todavia segundo o Mestre citado, tendo ele permanecido três dias em Nirbikalpa, deixou-nos o seguinte comentário: “...tão logo a forma graciosa da Mãe Divina apareceu, usei minha discriminação como uma espada e a parti em dois pedaços. Não havia então mais nenhum obstáculo diante da minha mente, que voou imediatamente para além do plano das coisas condicionadas...”

                        Observando-se atentamente as palávras do Bendito Senhor, verificamos que, respeitosamente, ele  demonstra que necessitou se libertar da imagem da Divina Mãe, mais ainda declarou ser ela um obstáculo e situou-a, ainda, dentro do plano das coisas condicionadas. Só então ele conheceu o incondicionada, consoante suas palavras:

                        “O universo apagou-se. Nem mesmo o espaço existia. A princípio, idéias sombrias flutuavam ainda sobre o fundo obscuro da mente. Somente a consciência débil do eu repitia-se, monotonamente...Depois, isto também cessou. Havia apenas a existência. A alma perdeu-se no Si (o Self). Todo dualismo desapareceu. O espaço infinito e o espaço finito eram Um. Além das palavras, além do pensamento, a união perfeita com Brama.”

                        Portanto, só se atingi tal ponto depois de libertar-se de toda a forma e toda imagem, o que só se faz se atingir a um grau de renúncia e desapego muito elevado.

                        Este é o ponto do qual não se tem retorno. Todavia, não se trata de um retorno físico ou mesmo da permanência em êxtase constante. Nada tão superficial ou simplorio. Acontece que o indivíduo, a partir de então, conforme citação acima, passou a navegar no não dual, razão pela qual sua individualidade e consciência eclodem, fazendo desabrochar o Ser Interno, que permanecerá. Já não há mais separatividade.













                        Assim, para os observadores externos, surgirá um novo homem, ocupando o lugar do que antes ali estava. Por isso não há mais retorno.

                        A Divina Presença é uma constante e na natureza vislumbra a sua perfeição.

                        O samadhi, mesmo o nirbikalpa não tem importância em si mesmo, senão para provocar a eclosão da consciência e o afloramento da Mente Abstrata.

                        A tentativa vã de atingir-se um estado de “gozo” permanente é ilusória e medíocre, como bem salientou o Senhor Ramakrishna ao recusar o pedido de seu discípulo Vivekananda que queria permanecer no êxtase (nirbikalpa) : “Que vergonha, como pode dizer essas palavras! Pensei que você fosse um enorme recetáculo de vida e você deseja permanecer absorto na sua alegria pessoal, como um homem comum!”

                        Assim, o desejo de permanecer no êxtase, da repetição constante é uma pretensão pequena e medíocre. Aliás, não se verifica casos de repetição do nirbikalpa, visto que sua utilidade se perde após a eclosão da consciência.

                        Sequer é ele a única porta de entrada, o que,  inclusive é confirmado por Ramakrishna na sequência da resposta oferecida ao Swami Vivekananda: “...Esta realização se tornará tão natural, pela graça da Mãe, que você realizará a divindade única em todos os seres. Você fará grandes coisas no mundo: dará aos homens o conhecimento espiritual e aliviará a miséria dos humildes e dos pobres.”

                        Mais tarde Vivekananda confirmaria as palávras do Mestre: “...Todas as coisas são boas e belas porque perderam sua relatividade. E meu corpo, antes de tudo... Esta existência! ...” A rigor a palavra existência deveria estar com letra maiúscula, posto que se referia à Existência e não à sua existência particular. Antes de tudo vem a Existência...

                          No ponto em que chegou Ramakrishna não há mais separatividade, nem mesmo entre os sexos, posto que as mulheres não distinguiam e nem os homens, assim como ele não se distinguia e nem os distinguia também.

                        Não se trata da simples abstinência sexual, que em certos casos pode  nem chegar a existir, mas de deixar de enxergar e perceber as pessoas pela ótica da separação de sexos e, mais ainda, viver como um Ser único sem pensamentos masculinizados ou feminilizados. Assim, emoção, sentimento e mente se encontram acima da separatividade sexual, territorial ou  racial. Torna-se um Ser Universal.
















                        O Cristão puro, encontra seu caminho através da graça do Altíssimo, da entrega incondicional e do auto sacrifício. Não é interessante que o Cristianismo puro, desde a sua origem remota, nunca buscou o apoio de imagens externas?

                        Avançado em todos os sentidos o Cristianismo sempre predicou posicionamentos espirituais avançados, seguidos de práticas espirituais e morais que traduzem sempre um amor puro e elevado ao Alto e ao próximo, sem devaneios ou muletas.

                        É tão profundo e sutil o seu sentido, que cada um deve meditar por si mesmo e eu devo parar por aqui.

                       

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