O
Que é Ioga?
A ioga surgiu na Índia na
era Axial. Muitos atribuem ao sábio Valmik a sua criação. O mais provável é que
houvesse um movimento no sentido da criação desta ciência e que Valmik foi o
expoente da época ou seu organizador.
Muitos consideram Valmik
ateu, mas o mais provável é que fosse um agnóstico.
Existem cerca de cinqüenta e
três definições para a palavra ioga. A mais comum é atribuir-lhe o significado
de “união”, ou literalmente “o que ata”.
Ioga é uma palavra sânscrita
(yug), escrita originalmente no alfabeto devanegari. “Deva”,literalmente “ser
luminoso”, pode ser traduzido como “deus” e “negari” significa “urbe” ou
“cidade”. Portanto, a palavra devanegari pode ser traduzida como o alfabeto da
cidade dos deuses ou escrita dos deuses.
Não existem assento
circunflexo no alfabeto devanegari ou no sânscrito. O assento sobre a palavra
indica que a vogal deve ser pronunciada mais longamente, como em um cântigo.
Não é um idioma silábico como o nosso, mas acentuado.
Patânjali, em seus sutras,
define ioga assim: Yogas
citta-vrtti-nirodhah, ou seja, ioga é
a inibição das modificações da mente.
Destaca-se, a mente para o
iogue tradicional é todo o conjunto composto pela mente propriamente dita,
instintos, sentimentos e todo o conjunto
psíquico que forma a consciência externa.
Outra definição mais moderna
e mais assimilável é dada por Sri Sevananda Swami que diz: “A ioga é um método
que aumenta, progressivamente, a consciência da percepção de Si.
Tais definições não são
contraditórias e merecem uma investigação honesta de nossa parte.
Entretanto, tais questões
serão postergadas para serem enfrentadas mais adiante.
Por ora, convém que se diga
que o objetivo da ioga é o samadhi, um estado de consciência elevado, que se
divide em asamprajnata (sabija ou sabikalpa) e samprajanta (nirbija ou
nirbikalpa).
O primeiro (asamprajnata)
tem imagens, distinguindo o observador da coisa observada, ainda existe o “eu”, por assim dizer, enquanto o segundo
(asamprajnata) se opera em outro plano, onde não existe o “eu”, ou onde apenas
há a existência em um “não eu”, sem imagens, abstrato, o “Vazio”, fora da
dimensão temporal.
A consciência é questão de
percepção. O samadhi, por sua vez, é um dos estados mais elevados da
consciência.
Logo, o objetivo da ioga é
ampliar a percepção do Si, através de estados sucessivos e elevados de
consciência.
AS
Linhas Tradicionais de Ioga
Existem três linhas básicas
de ioga que são logo incorporadas por uma quarta e que se relacionam com os
tipos humanos básicos:
Karma ioga: Karma quer dizer
ação ou conduta e diz respeito ao homem de ação ou herói, surgido como modelo
na era axial. É representado pelo arqueiro, pois tem como base o desapego ao
resultado das ações.
Jnana ioga: é o caminho do
sábio, muitas vezes representada pelo portador da espada ou espadachim. É um
caminho de investigação e renúncia intelectual. Trata-se mais de um
“liberar-se”, de conceitos e pré-conceitos do que de adquirir. Chamado do
caminho do “isto não”, trata-se de um “soltar-se” e de se desapegar de
conceitos.
Bhakthi ioga: é o caminho do
santo, do devocional. É a ioga do amor, em especial ao Divino. Externamente se
mostra pelas práticas devocionais que resultam deste amor que se expande.
Normalmente trabalham em meditação devocional e mantras, focando em um ideal divino
(Deus Pai, Mãe, Filho, Irmão, Companheiro, etc).
O ideal iogue é de que o
homem se integre nas três formas de ioga, embora sempre com o predomínio de uma
delas, em face de suas tendências naturais.
A quarta forma é chamada
Raja Ioga ou Ioga Real. Nela são previstas oito etapas:
- Yama
(harmonização externa)
- Niyama
(harmonização interna)
- Asanas
(posturas físicas, equilíbrio físico, hatha ioga)
- Pranayama
(práticas respiratórias)
- Pratyahara
(abstração ou estado de contemplação)
- Dharana
(concentração da mente)
- Dhyana
(meditação)
- Samadhi
(estado elevado e transcendental da consciência)
O fundamento se encontra na
idéia de que, quanto maior a consciência de Si, maior o senso da realidade e,
por conseguinte, maior o contentamento, alegria e felicidade do ser.
Tal idéia se funda em uma
expressão: Satychiananda que significa verdade (Sat), existência (chi) e
contentamento.
A forma sânscrita de
formação da palavra denota toda a doutrina, ou seja, a consciência do Si está
no centro, posto que o ser consciente de Si, de sua existência atinge,
simultaneamente, o conhecimento da realidade e o contentamento, eliminando o
sofrimento.
Dito isso, é preciso
explicar que a questão se insere no objetivo de transcender a mente ordinária e
encontrar o âmago do ser, obtendo a consciência da realidade e escapando do
movimento mental interminável.
Voltando às etapas acima,
deve-se dizer que não se tratam de passos, mas fases que devem ser praticadas,
normalmente, simultaneamente.
O que se chama,
corriqueiramente, de ioga não o é, mas somente uma prática sobressalente que se
encontra no terceiro passo e que se chama
asana.
Duas práticas nominalmente difundidas no
ocidente, ahimsa (não violência) e satyagraha (ater-se à verdade), condutas
ressaltadas por Gandhi, encontram-se na primeira etapa, chamada de Yama ou
harmonização externa.
Ioga é, pois, uma forma de
viver cotidianamente a integralidade do ser, e não uma prática física somente
dedicada ao bem estar físico ou a boa forma. Também não se trata de um sistema
de construção mental que se vale do pensamento, como será demonstrado mais
adiante.
Não restam dúvidas,
entretanto, de que a prática da ioga ajuda a proporcionar bem estar físico e
saúde, inclusive no que diz respeito á mente, ao sistema glandular e postural.
Problemas cardiovasculares, varizes, calvície (não hereditária) são tratados
por yogaterapeutas com sucesso.
Por isso, voltando ao
conceito do Swami Sevãnanda, “ioga é um método que aumenta, progressivamente, a
consciência da percepção”. Podemos perceber, portanto, que ele se refere a
eclosões sucessivas e progressivas, normalmente precedidas de algum sofrimento
ou angustia internas, que levam a expansão da consciência.
Buda,
Budismo e Ioga
Sidartha, quando adentrou na
floresta se fez discípulo de iogues tradicionais e se utilizou deste sistema
para atingir o equilíbrio necessário.
Chegou a atingir estados
profundos e sutis de consciência, inclusive o samadhi, mas percebeu que neles
não se continha a libertação final que almejava.
A partir disso, buscou
alcançar o estado de libertação interior absoluto e o obteve através de
eclosões contínuas, até que percebeu que este, finalmente se acercara e o
atingiu.
Deixando de lado a mitologia
e toda alegoria que envolve tal assunto e que os seguidores formaram através
dos tempos, podemos perceber que Sidartha se utilizou dos métodos clássicos
como base, mas, depois, foi além e através da espontaneidade, permitiu que o
que era natural ao ser se manifestasse.
Sidartha percebeu que a raiz
do mal estava na ignorância e que esta era criada por Mara, que empoeirava a
realidade.
Derrotando Mara e, por
conseguinte, livre da ignorância o real se tornou definitivamente manifesto.
Mara, nada mais é do que a mente e samsara a torrente de pensamentos que cria o
Karma e agrilhoa o ser humano.
O Buda foi um iogue avançado
e que encontrou uma forma de se tornar livre da ignorância.
Seu método é uma
simplificação da tradição oriental clássica, pois prega o caminho das oito
sendas, mas isso se resume em harmonia física, emocional, mental, concentração,
meditação e samadhi, atingido a realidade superior depois disso, ou seja, a
real e perene meditação que chamou nibbana ou nirvana.
Utilizou-se da meditação no
sentido amplo, para que os homens se guiassem na sua própria senda, valendo-se,
inclusive do diálogo.
Longe de ser um santo
isolado nas florestas ou montanhas, estava sempre nos grandes centros ao dispor
daqueles que procuravam a liberdade.
Sarva
Ioga
A
Sarva Ioga é resultado na obra de Sri Sevananda Swami e teve o seu expoente no
Swami Sarvananda, seu discípulo e sucessor.
Sarva
é um vocábulo sânscrito que quer dizer “integral”, “tudo”, “todo”, etc.
Sarva
Ioga, pois, é ioga integral ou total, ou do todo.
É
um sistema não divisionário, ou seja, é inclusivo e não fragmentário, pois
respeita aos demais aceita o que é compatível com seus sistema e, se não
utiliza o resto, não o discrimina.
O
Mestre Sevananda, percebeu que ao longo dos séculos os praticantes de ioga a
tinham partido em várias partes, algumas destacando a devoção, outras o saber,
o conhecimento, o poder mental, a ação, etc., sem tratar do desenvolvimento do
homem como um todo.
Além
do mais, excluiu tudo o que era meramente cultural e que havia sido incorporado
através dos séculos, para que pudesse atender a todos. Sendo assim, é uma ioga
para todos, no sentido de que pode ser praticada por quem quer que seja, desde
que tenha real aspiração, evidentemente, independente da cultura, etnia,
religião etc.
Assim,
o praticante de sarva ioga deve primar por ser espontâneo e original.
A
Sarva Ioga tem como alvo principal os habitantes da América do Sul e o povo
brasileiro.
Daqui
em diante vamos tratar de alguns temas sob a ótica da Sarva Ioga na atualidade
A
Constituição Humana Segundo A Sarva Ioga
Segundo
a ioga tradicional o homem é constituído de cinco elementos:
1.
Anamaya-kosha
(corpo físico)
2.
Pranayama-kosha
(rede energética vital)
3.
Manomaya-kosha
(substância mental concreta)
4.
Vijnamaya-kosha
(intelecto realizado)
5.
Anadandamaya-kosha
(revestimento de gozo, Sat chi ananda)
Entretanto, o Swami Sevananda,
desenvolveu um método mais adaptado para o homem ocidental, principalmente sul
americano, levando em conta a sua natureza e estado vital energético.
Para isso, tomou a constituição em
sete elementos:
1.
Centelha
divina ou espírito imortal;
2.
Corpo
causal ou budhico;
3.
Corpo
psíquico;
4.
Corpo
mental;
5.
Corpo
emocional;
6.
Corpo
vital (ou etérico-vital)
7.
Corpo
material ou corpo físico.
A
centelha ou si é perfeita ou imutável e ainda nos é desconhecida. O corpo
físico não é aperfeiçoável e é deteriorável, descartável, o corpo mental ocupa,
justamente, o centro da constituição humana.
O
Sarva Iogue, busca o samadhi ou outra forma de êxtase, não como fim, mas como
meio de estabelecer um contato permanente com
a consciência superior, que a partir daí, pretende o estabelecimento da
conscientização no seu cotidiano.
Para
o Sarva Iogue, o samadhi ainda contém ilusão e somente o estado de perene
meditação o leva à liberdade integral que almeja como forma de ser útil na
forma tríplice.
A
tríplice utilidade é a forma de realização do Sarva Swami: Útil a si, Útil ao
Alto, Útil a outrem.
Só
pode atingir tal meta uma consciência realizada, ou seja, livre da mente
concreta que deve ser calcada ao seu lugar.
Para
o Sarva Swami, por sua vez, o que existe é o estado de perene meditação, que
está além do samadhi e da ilusão que ainda o contém.
A Mente
O
Swami Sarvananda dizia uma grande verdade em tom de brincadeira: “A mente
mente!”.
O
que é a mente? A mente é um gravador que é ligado, automaticamente, com o
nascimento e começa, imediatamente, a gravar e a processar tudo e só se desliga
com a morte.
Diz
Krisnamuthi e David Bonn no livro “A eliminação do tempo psicológico”, que o
maior erro do homem foi colocar a mente como algo prioritário.
Tem
razão nisso, visto que a mente é a apenas uma ferramenta e não possui
autonomia.
A
mente não é, pois criativa, mas uma função automática.
O
que ela é? Uma ferramenta, um instrumento, um mecanismo. Podemos dizer que é um
gravador, ou, com maior modernidade, um computador, que registra e processa,
mas que não cria absolutamente nada.
A Experiência
Experiência
é o resultado ou resultante do processamento mental. Os sentidos se abrem e a
mente começa a gravar: isto é experiência, que responde com o pensamento.
Assim,
tudo é experiência e, portanto, tudo isso é resultado do exercício da função
mental.
A
experiência é, portanto, um produto da mente e por isso, em face de situações
similares, o resultado, para pessoas distintas, pode ser diferente.
Pela
interatividade entre humanos, na transmissão pela linguagem, fica impressa na
mente experiências ancestrais e atávicas que criam, juntamente com novas
impressões, padrões e condicionamentos.
Por
isso tinha razão o grande Pedro Nava quando dizia que a experiência é como um
“carro em uma estrada escura com os faróis ligados mas virados para trás”.
A
experiência só ilumina o passado, daí sua falta de originalidade e criatividade
e sua incapacidade de lidar com o novo e com o desconhecido.
O Pensamento
O
Pensamento é o resultado do estímulo externo sobre a mente. O estímulo faz com
que a mente grave, cria-se a experiência e o pensamento é a resposta da mente,
quer seja para aprovar, rejeitar, reajustar (nunca criar).
O
Pensamento é o produto da mente e o seu fluxo contínuo (já que o processamento
é contínuo) cria a ilusão do “ego”, assentado nos padrões e condicionamentos
apontados.
A
partir de então é criado o tempo, já que o pensamento é um movimento. É nessa
dimensão (tempo e espaço mental) que o pensamento se movimenta, e para isso
precisa de muita energia.
É
preciso que se diga, diante de tudo isso, que o que chamamos “ego”, “eu” ou
“Self”, não é uno ou indivisível, mas fragmentado, posto que o pensamento e os
padrões que o constituem não o são.
Considerando
que mente, experiência e pensamento formam o “ego”, podemos dizer que a mente
ativa equivale a vida e a inativa a morte, como já foi dito em outra parte.
Mas
a mente conta a sua primeira mentira ao afirmar que ela é o eu verdadeiro, o
segundo ao dizer que “ela é quem faz ou cria”, mas a pior é se colocar como o
centro da existência, o que, efetivamente, não é.
Outra
mentira terrível é a afirmação de que ela pode por fim ao sofrimento e, isso
acarreta mais sofrimento.
Na
verdade a mente é a mãe da ignorância e causa dos males subseqüentes e por isso
o Buda a chamava de Mara (ilusão).
O Sofrimento e a Grande
Mentira da Mente
Um
fato indiscutível é que todo ser humano sofre. Há milhares de anos que este é
um problema recorrente e que não se consegue resolver, ou melhor, que a mente
tenta mas que não consegue solucionar.
Com
sofrimento diz-se toda a dor e até a insatisfação, o sentir de incompletude que
assola o ser humano, aconteça o que acontecer. A isso Buda chamou dukka.
A
mente, limitada que é, responde a este estímulo com desejos e suas realizações,
mas não consegue, senão promover frustração e, por conseqüência, mais
sofrimento.
Sexo,
drogas, consumismo exacerbado, nada disso responde a tal questão, mas,
entretanto, continuamos na mesma, procurando respostas quer seja em um copo,
quer seja em um carro novo ou em uma mulher\homem mais novo.
É
aí que a mente conta sua grande mentira, prometendo solução para o problema que
ela mesma criou.
O
condicionado não pode libertar, pois também não é livre e é limitado.
Com
isso, tudo o que faz é aumentar o fluxo do pensamento e tornar a mente mais
confusa, em desordem e a vida mais sofrida.
Até
mesmo os iogues procuram resposta na mente e, com isso, só alimentam outras
ilusões, ainda que mais sutis e, aparentemente, elevadas.
Somente
o desapego, a compreensão e atenção sobre a realidade podem permitir tal
liberação.
O Engodo do Controle
Mental
Muito
se prega nas escolas que somente o silêncio mental pode permitir uma real
percepção da realidade. Não se nega isso, entretanto, é preciso analisar as
conseqüências disso.
Uma
vez que se determina o controle da mente, quem se encarrega do procedimento de
controle? A mente. Ora, pode a mente se auto-controlar.
O
próprio pensamento pode fazer cessar o fluxo do pensar? Evidentemente que se
cria um conflito interno que tende a gerar mais violência infligida ao sujeito.
Em
primeiro lugar cria-se (na mente) uma imagem de transformação, ou seja, “o
outro” que é o modelo, o “vir a ser”. Cria-se o conflito entre “o que é” e o
“vir a ser”, que se torna inalcançável. É uma situação neurótica estabelecida
entre a realidade e o modelo criado pela mente.
Em
segundo lugar, o pensamento não pode se auto-controlar e fazer cessar o seu
próprio fluxo. Esta postura que se tenta implantar, encontra forte resistência
no conceito mental de que o fluxo é a própria vida e a sua interrupção implica,
mentalmente, falando, na morte do “ego”? Obviamente, o instinto de
sobrevivência alojado no ser haverá de opor resistência ao seu desaparecimento
e é isso que efetivamente acontece. Daí, mais uma vez, caracterizada a
violência interna, a frustração e a neurose que se instala, aumentando o
sofrimento do ser.
Em
terceiro lugar, o não original não pode instalar o original, o não criativo não
pode instalar a criatividade. Considerando que a mente é voltada para o
passado, para o antigo, não se concebe que possa, de uma forma natural,
criativa e efetiva, estabeleça um método efetivo de cessação do fluxo de
pensamento que, em síntese, é ela mesma.
Além
do mais, em quarto lugar, devemos lembrar que o “ego” é fragmentado é,
portanto, descontínuo, razão pela qual não se vislumbra que possa lidar com
aquilo que é uno, ilimitado e perene.
Enfim,
qualquer tentativa de controle implica em repressão e violência e, portanto, é
ineficaz para os fins a que se destina.
Na
Sarva Ioga tais métodos não são utilizados, pois a espontaneidade é da sua
essência.
O Método Sarva
As
perguntas que se apresentam acima é: O que pode ser feito? Algo pode ser feito?
A questão é que se algo pode ser feito, não é através da mente e, menos ainda,
de uma forma forçada e violenta.
Atos
de repressão sobre a mente ou o corpo não oferecem qualquer resultado a não ser
maior sofrimento e frustração.
Não
podemos olvidar, que a Sarva Ioga se destina ao homem moderno e que vive nesse
mundo caótico, em particular o sul americano e o brasileiro.
Vivemos
em completa desordem quer mental quer física, o que é natural, já que o mundo
que conhecemos foi construído pela mente.
Esta
desordem nos apresenta estímulos de consumismo, sensualidade, glutonaria, violência
e hedonismo que não podemos ignorar.
As
próprias relações humanas são tratadas sob uma ótica consumista e, portanto,
transitória, que fica difícil tratar de algo tão sério e profundo em face de
tanta leviandade e superficialidade.
Em
face disso, o sentimento de frustração, insatisfação, angústia e depressão se
instalam cada vez mais na sociedade.
Eis
porque se faz necessário que o primeiro passo seja o de se levar uma vida
moderada, equilibrada, evitando excessos e ética e moralmente correta.
Durma
por pelo menos sete horas diárias de forma regular e confortável e, de
preferência na mesma hora. Procure se levantar no mesmo horário e de forma
regular inicie suas atividades de forma consciente e sob atenção.
Não
há como confundir a ética e moral social com a ética e moral do iogue, pois a
sociedade é imoral e aética, pois foi construída pela mente concreta.
É
preciso, pois, e já adentramos em uma questão mais profunda, manter a atenção,
a observação, sem julgamentos, de si mesmo e do pensamento. Observe, verifique
os resultados e pronto. Nada mais.
Pode-se,
neste ponto, perguntar: Mas esta vivencia é possível a todos? Não seria real se
não estivesse, entretanto a pergunta mais correta seria, estão todos dispostos
à esta vivência? Este é o real problema.
Portanto,
tais questões estão ao alcance de todos, resta saber se todos estão ao alcance
disso.
O
estado de meditação é inerente ao ser humano e nada tem de sobrenatural, razão
pela qual não se vê razão para a criação de tantos métodos e sistemas que preconizam
a dificuldade de apenas ser o que é.
Preste
atenção ao fluxo de pensamentos enquanto caminha, fala, está em repouso, enfim,
durante todo o tempo e observe. Haverá resultados.
Pare
pelo menos dez minutos por dia, sente-se relaxado e confortavelmente, feche os
olhos e apenas observe, não tente controlar nada, apenas preste muita
atenção...
Procure,
em todas estas circunstâncias, fazer um chamado de si (CHASI), ou seja, foco em
si mesmo, esteja sempre presente em todas as suas ações.
Lembre-se
que a ioga é pragmática, científica e, portanto, deve ser experienciada.
Não
é conveniente que o praticante dê muita ênfase aos sucessivos estados que viver
ou a imagens que se projetarem.
Práticas
como a meditação dialógica foram utilizadas pelo Buda, Sócrates e, mais
recentemente, Krishinamurthi. Era também utilizada pelo Swami Sarvananda em
face dos membros mais avançados da Ordem dos Sarvas Swamis.
Alguns entraves
Cotidianos
Algumas
questões precisam ser tratadas, mesmo porque implicam em dificuldades criadas pela
mente ao longo de milênios e que nos atormenta até hoje.
Entretanto,
deve ser posto às claras, para que se demonstre o que tais questões representam
na perspectiva da mente ou do “ego”.
- Idolatria
Idolatria não é o que se pensa, ou não
é apenas a construção física de imagens de adoração. Aliás, está é a forma
menos nociva da idolatria.
A palavra ídolo vem de idéia, ou seja,
representa uma imagem construída mentalmente a qual emprestamos algum valor.
Ídolos são, portanto, qualquer
construção mental que se converte em uma imagem valorada e que, por isso mesmo,
torna-se um ícone impeditivo de percepção da realidade. Por isso não devemos
ser obstinados ou apegados com relação a uma idéia ou pensamento. É isso que se
constitui em idolatria mental, da qual a expressão física é apenas uma pálida
expressão física. No mais e em regra, todos constroem e desconstroem ídolos,
substituindo uns pelos outros ao longo da existência.
A auto piedade, por sua vez, é um dos
piores tipos de idolatria possível.
- A
Relação Mestre Discípulo
Outra
herança deturpada e nefasta do passado. Acredita-se que uma autoridade externa
possa oferecer resposta a alguém, quando só ele pode fazê-lo. Esta relação
deturpada impede a auto-investigação e a tomada de decisões. Fixa a humanidade
em relacionamentos infantis e baseados no apego e dependência. Perpetua, pois,
o estado de sofrimento em que nos encontramos e não passa de mais uma
distração.
Na
Sarva Ioga nada é trabalhado desta forma. Cada um deve trabalhar sobre si e
efetuar a sua investigação para obter a percepção da realidade.
- A
Religiosidade
Toda crença, toda prática,
tudo enfim, que existe neste mundo contém ilusão.
Veja bem, a Vedanta diz que
existem cinco formas de se ligar a Deus: Como Pai, Mãe, Amigo, Filho ou Amante.
Sejamos francos, nisso aí
contém uma dose cavalar de ilusão.
A força viva criadora e
mantenedora não pode ser sua amante, mãe, pai, filho ou o que o valha, porque
estes valores são deste plano.
É uma estratégia mental para
atender suas necessidades.
Ramakrishna diz em seu
evangelho: A mãe tem um só peixe, mas o prepara de forma diversa a fim de
agradar o paladar de cada um de seus filhos, de modo que cada um pensa que degusta coisa diferente.Não se trata,
pois, de ilusão?
O que se percebe e, conforme
disse o Swami Vivekananda, o deus pessoal é apenas a forma como o deus
impessoal é percebido e traduzido pela mente.
Logo, ainda que sublime,
trata-se de uma ilusão alimentada pela mente.
Por isso Sri Sevananda disse
que até o samadhi contém ilusão. É que o samadhi, um estado de consciência
elevado, impulsionado pela mente, ainda trás a base da ilusão mental. Samadhi,
literalmente, quer dizer correta contemplação, mas ainda é um estado
contemplativo e não inteiramente integrado.
A palavra êxtase, do
original grego quer dizer “fora de si”, ou seja, fora da mente, mas ainda se
apóia nela, pois ainda a situa como o si ou eu, ou seja, o centro.
Só quando não há eu ou
centro vive-se de fato.
A religiosidade que hoje se
pratica tem origem na era Axial e provém da Índia, Oriente Médio, China e
Grécia.
Tudo se origina nos
primeiros arianos, que nada tem a ver com a cor da pele, em princípio, mas com
o termo ariano (aquele que tem honra), e trás em si a marca de um povo e seu
orgulho. Sua etnia era diversificada, assim como os cananeus.
Eram pacíficos, mas se
converteram, aos poucos, em guerreiros e saqueadores e faziam sacrifícios
animais.
Os ascendentes dos hebreus
cultuavam vários deuses, entre eles um chamado El, que foi substituído pelo
deus guerreiro Javé, visto que os tempos eram de guerra. O culto a Javé
conviveu por longo tempo com o do deus agrícola baal, até que em atitude
repressiva o culto do segundo foi abandonado.
Não se negava a existência
de baal ou de outros deuses, mas apenas os fixaram por nação. Baal era fenício
e Javé israelita e não admitia defecções.
O amor ao próximo, na
verdade se restringia a uma relação de respeito e consideração que se devia aos
membros da família ou tribo, sejam sanguíneos ou em ração de pactos
matrimoniais. Não tinha, pois, esse sentido profundo de amor que queremos ver
hoje e menos ainda se destinava a qualquer ser humano. Entretanto, não
costumavam demonstrar piedade com os estranhos. A retaliação costumava ser
cruel, violenta e implacável.
Essa visão guerreira e
exclusivista ainda ecoa nos recônditos de nossa psiquê.
Por mais estranho que possa
parecer estas coisas andam muito distantes uma da outra.
Por isso as seitas mais sectárias são as cristãs e que
guardam uma ordem impositiva e repressiva muito grande. Fomos todos criados
nisso.
Presumem que tem que se
impor aos outros, que são únicos, escolhidos, que os demais vivem nas trevas
etc.
Presumem a realidade
absoluta de sua crença e do que interpretam. Normalmente se mostram limitados e
limitativos.
Entretanto, em sentido
diametralmente oposto, o Cristo era libertário (por isso foi morto), não
dogmático e por várias vezes demonstrou a incompatibilidade das questões
espirituais com as questões sociais, mas não foi compreendido:
Meu
reino não é deste mundo.
Curiosamente pregam o amor,
a liberdade e a igualdade, mas não vêem a incoerência disso com uma conduta
repressiva e punitiva que não considera as crenças alheias.
O que caracteriza a
estrutura religiosa é similar ao dos organismos legais.
Trata-se de um conjunto
normativo organizado que mantém o órgão em questão.
Toda norma tem um comando
(ordem) e uma sanção (punição) para o seu cumprimento ou, até, um benefício
(sanção positiva) para o seu cumprimento.
A religião, em regra, opera,
enquanto sanção com a culpa.
Lembre-se, culpa não é algo
que a gente tem, mas algo que a gente sente.
Assim, trata-se de uma
intromissão na psique do outro.
Entretanto, no caso da
religião organizada, principalmente as que se dizem Cristãs, é interessante que
você seja, sempre, um infrator.
Um infrator sente culpa e
quem sente culpa não é livre e teme a punição. Quem teme a punição quer ser
salvo e quem quer ser salvo, precisa de um salvador ou intercessor e aí entram
as Igrejas como as grandes intercessoras no processo de salvação.
Entretanto, se não sinto culpa,
e não preciso de salvação, sou livre e independente.
O efeito de tais regras na
mente resulta em uma estrutura de agrilhoamento e dependência mental que
dificultam a liberdade de ação, pois a formação de imagens e ídolos impede o
contato com o que realmente é.
Ou é repressiva ou se
converte em distração, entretenimento da mente, evitando-se a busca do real.
A
Linguagem e o Diálogo
Duas coisas foram
fundamentais na formação da personalidade, ou ego como o conhecemos: a) o
instituto da propriedade privada; b) a linguagem.
O homem moderno, já dizia
Lacan é formado pela linguagem, ou seja, em função dos relacionamentos que se
estabelecem pela comunicação.
A palavra, objeto da
comunicação, mas não o único, é um significante ao qual atribuímos significado
e, este último, é obrado pela mente.
Se a mente produz o pensamento e este se faz
pela obra mental através da linguagem, isto significa que a observação do fluxo
via diálogo pode ser eficaz para a percepção da realidade.
Os participantes do diálogo
podem conduzir-se através de um tema previamente escolhido e manter,
concomitantemente, a atenção e prática do CHASI.
Sócrates se utilizava do
diálogo, Krishnamurthi também. O Buda conduziu um diálogo com um homem
importante que achava que o “eu” era o mais importante e através deste ponto a
visão daquele homem se abriu para o real.
O Swami Sarvananda, uma vez,
conduziu um diálogo com o autor deste texto que foi, para ele, uma verdadeira
iniciação. Depois deste primeiro diálogo, muitos outros se seguiram, configurando-se
em verdadeira meditação conjunta conduzida pelo Swami.
Este é sem dúvida um meio
alcançável a todos e que os Sarvas se valem e podem se valer de forma eficaz.
A
Ordem dos Sarva Swamis
A Ordem dos Sarva Swamis foi
fundada no dia 02 de agosto de 1954 pelo seu primeiro acharya, Sri Sevananda
Swami, e co-fundadores o Swami
Sarvananda e Swamini Sadhana.
Embora com este nome Ordem,
ela o é, muito mais no sentido oriental, de uma confraria de monges,
apolíticos, sem fins lucrativos e sem caráter religioso, que os reúne a fim de
preservar, dinamizar, adaptar, transmitir e viver os princípios que foram de
forma muito simples e limitada expressas no texto.
Embora exista uma acharya,
um árbitro, por assim dizer, não existe uma relação de subordinação entre os
seus membros.
Todos são respeitados
naquilo que vivem ou lhes é dado viver.
A sangha (confraria), não
faz serviço externo, prestação de
serviços ou obras sociais, sua única razão de existir a busca do que se
convencionou chamar de realização espiritual, ou extinção de dukka, compreensão
do real, extinção da roda de samsara, etc.
Mas o real, somente a
vivência individual o revela.
Os sarva swamis para sua
admissão como tal, por tudo que foi dito, entre outras coisas, devem se
despojar da obstinação ideológica (real desapego) e ter vivido, pelo menos um
dos tipos básicos de vivência transcendental, que é a verdadeira iniciação:
samadhi ioguico, satori (zen), transe devocional estático, iluminação
supramental, CHASI pleno. A reiterabilidade é essencial.
Além disso, o compromisso de
servir a confraria e viver, internamente como um monge, ou seja, alguém voltado
para a compreensão e estabelecimento do Real.
Nem todos nasceram para ser
swamis, mas nem por isso estão alijados da realização, cada um com sua forma de
se encontrar.
A Sarva Ioga não é só para
os swamis, mas para todo aquele que se encontra cansado de ilusões, angústias e
quer, sem rodeios, uma prática franca, sincera e objetiva.
Os sarva iogues, como os
antigos budistas, não tem uma vida reclusa, vivem em qualquer urbe ou no campo,
sem problemas, conforme sua aptidão e não se mostram adeptos do asceticismo e
das praticas alienantes que deixam o homem estados extáticos ou em transes
prolongados, mas permanecem em meditação consciente e em perene estado de
atenção.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário