sábado, 19 de janeiro de 2013

O Que é Ioga


O Que é Ioga?


A ioga surgiu na Índia na era Axial. Muitos atribuem ao sábio Valmik a sua criação. O mais provável é que houvesse um movimento no sentido da criação desta ciência e que Valmik foi o expoente da época ou seu organizador.
Muitos consideram Valmik ateu, mas o mais provável é que fosse um agnóstico.
Existem cerca de cinqüenta e três definições para a palavra ioga. A mais comum é atribuir-lhe o significado de “união”, ou literalmente “o que ata”.
Ioga é uma palavra sânscrita (yug), escrita originalmente no alfabeto devanegari. “Deva”,literalmente “ser luminoso”, pode ser traduzido como “deus” e “negari” significa “urbe” ou “cidade”. Portanto, a palavra devanegari pode ser traduzida como o alfabeto da cidade dos deuses ou escrita dos deuses.
Não existem assento circunflexo no alfabeto devanegari ou no sânscrito. O assento sobre a palavra indica que a vogal deve ser pronunciada mais longamente, como em um cântigo. Não é um idioma silábico como o nosso, mas acentuado.
Patânjali, em seus sutras, define ioga assim: Yogas citta-vrtti-nirodhah, ou seja, ioga é a inibição das modificações da mente.
Destaca-se, a mente para o iogue tradicional é todo o conjunto composto pela mente propriamente dita, instintos, sentimentos  e todo o conjunto psíquico que forma a consciência externa.
Outra definição mais moderna e mais assimilável é dada por Sri Sevananda Swami que diz: “A ioga é um método que aumenta, progressivamente, a consciência da percepção de Si.
Tais definições não são contraditórias e merecem uma investigação honesta de nossa parte.
Entretanto, tais questões serão postergadas para serem enfrentadas mais adiante.
Por ora, convém que se diga que o objetivo da ioga é o samadhi, um estado de consciência elevado, que se divide em asamprajnata (sabija ou sabikalpa) e samprajanta (nirbija ou nirbikalpa).
O primeiro (asamprajnata) tem imagens, distinguindo o observador da coisa observada, ainda existe  o “eu”, por assim dizer, enquanto o segundo (asamprajnata) se opera em outro plano, onde não existe o “eu”, ou onde apenas há a existência em um “não eu”, sem imagens, abstrato, o “Vazio”, fora da dimensão temporal.
A consciência é questão de percepção. O samadhi, por sua vez, é um dos estados mais elevados da consciência.
Logo, o objetivo da ioga é ampliar a percepção do Si, através de estados sucessivos e elevados de consciência.

AS Linhas Tradicionais de Ioga

Existem três linhas básicas de ioga que são logo incorporadas por uma quarta e que se relacionam com os tipos humanos básicos:

Karma ioga: Karma quer dizer ação ou conduta e diz respeito ao homem de ação ou herói, surgido como modelo na era axial. É representado pelo arqueiro, pois tem como base o desapego ao resultado das ações.
Jnana ioga: é o caminho do sábio, muitas vezes representada pelo portador da espada ou espadachim. É um caminho de investigação e renúncia intelectual. Trata-se mais de um “liberar-se”, de conceitos e pré-conceitos do que de adquirir. Chamado do caminho do “isto não”, trata-se de um “soltar-se” e de se desapegar de conceitos.
Bhakthi ioga: é o caminho do santo, do devocional. É a ioga do amor, em especial ao Divino. Externamente se mostra pelas práticas devocionais que resultam deste amor que se expande. Normalmente trabalham em meditação devocional e mantras, focando em um ideal divino (Deus Pai, Mãe, Filho, Irmão, Companheiro, etc).
O ideal iogue é de que o homem se integre nas três formas de ioga, embora sempre com o predomínio de uma delas, em face de suas tendências naturais.
A quarta forma é chamada Raja Ioga ou Ioga Real. Nela são previstas oito etapas:
  1. Yama (harmonização externa)
  2. Niyama (harmonização interna)
  3. Asanas (posturas físicas, equilíbrio físico, hatha ioga)
  4. Pranayama (práticas respiratórias)
  5. Pratyahara (abstração ou estado de contemplação)
  6. Dharana (concentração da mente)
  7. Dhyana (meditação)
  8. Samadhi (estado elevado e transcendental da consciência)
O fundamento se encontra na idéia de que, quanto maior a consciência de Si, maior o senso da realidade e, por conseguinte, maior o contentamento, alegria e felicidade do ser.
Tal idéia se funda em uma expressão: Satychiananda que significa verdade (Sat), existência (chi) e contentamento.
A forma sânscrita de formação da palavra denota toda a doutrina, ou seja, a consciência do Si está no centro, posto que o ser consciente de Si, de sua existência atinge, simultaneamente, o conhecimento da realidade e o contentamento, eliminando o sofrimento.
Dito isso, é preciso explicar que a questão se insere no objetivo de transcender a mente ordinária e encontrar o âmago do ser, obtendo a consciência da realidade e escapando do movimento mental interminável.
Voltando às etapas acima, deve-se dizer que não se tratam de passos, mas fases que devem ser praticadas, normalmente, simultaneamente.
O que se chama, corriqueiramente, de ioga não o é, mas somente uma prática sobressalente que se encontra no terceiro passo e que se chama  asana.
 Duas práticas nominalmente difundidas no ocidente, ahimsa (não violência) e satyagraha (ater-se à verdade), condutas ressaltadas por Gandhi, encontram-se na primeira etapa, chamada de Yama ou harmonização externa.
Ioga é, pois, uma forma de viver cotidianamente a integralidade do ser, e não uma prática física somente dedicada ao bem estar físico ou a boa forma. Também não se trata de um sistema de construção mental que se vale do pensamento, como será demonstrado mais adiante.
Não restam dúvidas, entretanto, de que a prática da ioga ajuda a proporcionar bem estar físico e saúde, inclusive no que diz respeito á mente, ao sistema glandular e postural. Problemas cardiovasculares, varizes, calvície (não hereditária) são tratados por yogaterapeutas com sucesso.
Por isso, voltando ao conceito do Swami Sevãnanda, “ioga é um método que aumenta, progressivamente, a consciência da percepção”. Podemos perceber, portanto, que ele se refere a eclosões sucessivas e progressivas, normalmente precedidas de algum sofrimento ou angustia internas, que levam a expansão da consciência.

Buda, Budismo e Ioga

Sidartha, quando adentrou na floresta se fez discípulo de iogues tradicionais e se utilizou deste sistema para atingir o equilíbrio necessário.
Chegou a atingir estados profundos e sutis de consciência, inclusive o samadhi, mas percebeu que neles não se continha a libertação final que almejava.
A partir disso, buscou alcançar o estado de libertação interior absoluto e o obteve através de eclosões contínuas, até que percebeu que este, finalmente se acercara e o atingiu.
Deixando de lado a mitologia e toda alegoria que envolve tal assunto e que os seguidores formaram através dos tempos, podemos perceber que Sidartha se utilizou dos métodos clássicos como base, mas, depois, foi além e através da espontaneidade, permitiu que o que era natural ao ser se manifestasse.
Sidartha percebeu que a raiz do mal estava na ignorância e que esta era criada por Mara, que empoeirava a realidade.
Derrotando Mara e, por conseguinte, livre da ignorância o real se tornou definitivamente manifesto. Mara, nada mais é do que a mente e samsara a torrente de pensamentos que cria o Karma e agrilhoa o ser humano.
O Buda foi um iogue avançado e que encontrou uma forma de se tornar livre da ignorância.
Seu método é uma simplificação da tradição oriental clássica, pois prega o caminho das oito sendas, mas isso se resume em harmonia física, emocional, mental, concentração, meditação e samadhi, atingido a realidade superior depois disso, ou seja, a real e perene meditação que chamou nibbana ou nirvana.
Utilizou-se da meditação no sentido amplo, para que os homens se guiassem na sua própria senda, valendo-se, inclusive do diálogo.
Longe de ser um santo isolado nas florestas ou montanhas, estava sempre nos grandes centros ao dispor daqueles que procuravam a liberdade.

Sarva Ioga

A Sarva Ioga é resultado na obra de Sri Sevananda Swami e teve o seu expoente no Swami Sarvananda, seu discípulo e sucessor.
Sarva é um vocábulo sânscrito que quer dizer “integral”, “tudo”, “todo”, etc.
Sarva Ioga, pois, é ioga integral ou total, ou do todo.
É um sistema não divisionário, ou seja, é inclusivo e não fragmentário, pois respeita aos demais aceita o que é compatível com seus sistema e, se não utiliza o resto, não o discrimina.
O Mestre Sevananda, percebeu que ao longo dos séculos os praticantes de ioga a tinham partido em várias partes, algumas destacando a devoção, outras o saber, o conhecimento, o poder mental, a ação, etc., sem tratar do desenvolvimento do homem como um todo.
Além do mais, excluiu tudo o que era meramente cultural e que havia sido incorporado através dos séculos, para que pudesse atender a todos. Sendo assim, é uma ioga para todos, no sentido de que pode ser praticada por quem quer que seja, desde que tenha real aspiração, evidentemente, independente da cultura, etnia, religião etc.
Assim, o praticante de sarva ioga deve primar por ser espontâneo e original.
A Sarva Ioga tem como alvo principal os habitantes da América do Sul e o povo brasileiro.
Daqui em diante vamos tratar de alguns temas sob a ótica da Sarva Ioga na atualidade

A Constituição Humana Segundo A Sarva Ioga

Segundo a ioga tradicional o homem é constituído de cinco elementos:
1.    Anamaya-kosha (corpo físico)
2.    Pranayama-kosha (rede energética vital)
3.    Manomaya-kosha (substância mental concreta)
4.    Vijnamaya-kosha (intelecto realizado)
5.    Anadandamaya-kosha (revestimento de gozo, Sat chi ananda)

Entretanto, o Swami Sevananda, desenvolveu um método mais adaptado para o homem ocidental, principalmente sul americano, levando em conta a sua natureza e estado vital energético.

Para isso, tomou a constituição em sete elementos:

1.    Centelha divina ou espírito imortal;
2.    Corpo causal ou budhico;
3.    Corpo psíquico;
4.    Corpo mental;
5.    Corpo emocional;
6.    Corpo vital (ou etérico-vital)
7.    Corpo material ou corpo físico.

A centelha ou si é perfeita ou imutável e ainda nos é desconhecida. O corpo físico não é aperfeiçoável e é deteriorável, descartável, o corpo mental ocupa, justamente, o centro da constituição humana.
O Sarva Iogue, busca o samadhi ou outra forma de êxtase, não como fim, mas como meio de estabelecer um contato permanente com  a consciência superior, que a partir daí, pretende o estabelecimento da conscientização no seu cotidiano.
Para o Sarva Iogue, o samadhi ainda contém ilusão e somente o estado de perene meditação o leva à liberdade integral que almeja como forma de ser útil na forma tríplice.
A tríplice utilidade é a forma de realização do Sarva Swami: Útil a si, Útil ao Alto, Útil a outrem.
Só pode atingir tal meta uma consciência realizada, ou seja, livre da mente concreta que deve ser calcada ao seu lugar.
Para o Sarva Swami, por sua vez, o que existe é o estado de perene meditação, que está além do samadhi e da ilusão que ainda o contém.


A Mente

O Swami Sarvananda dizia uma grande verdade em tom de brincadeira: “A mente mente!”.
O que é a mente? A mente é um gravador que é ligado, automaticamente, com o nascimento e começa, imediatamente, a gravar e a processar tudo e só se desliga com a morte.
Diz Krisnamuthi e David Bonn no livro “A eliminação do tempo psicológico”, que o maior erro do homem foi colocar a mente como algo prioritário.
Tem razão nisso, visto que a mente é a apenas uma ferramenta e não possui autonomia.
A mente não é, pois criativa, mas uma função automática.
O que ela é? Uma ferramenta, um instrumento, um mecanismo. Podemos dizer que é um gravador, ou, com maior modernidade, um computador, que registra e processa, mas que não cria absolutamente nada.

A Experiência

Experiência é o resultado ou resultante do processamento mental. Os sentidos se abrem e a mente começa a gravar: isto é experiência, que responde com o pensamento.
Assim, tudo é experiência e, portanto, tudo isso é resultado do exercício da função mental.
A experiência é, portanto, um produto da mente e por isso, em face de situações similares, o resultado, para pessoas distintas, pode ser diferente.
Pela interatividade entre humanos, na transmissão pela linguagem, fica impressa na mente experiências ancestrais e atávicas que criam, juntamente com novas impressões, padrões e condicionamentos.
Por isso tinha razão o grande Pedro Nava quando dizia que a experiência é como um “carro em uma estrada escura com os faróis ligados mas virados para trás”.
A experiência só ilumina o passado, daí sua falta de originalidade e criatividade e sua incapacidade de lidar com o novo e com o desconhecido.

O Pensamento

O Pensamento é o resultado do estímulo externo sobre a mente. O estímulo faz com que a mente grave, cria-se a experiência e o pensamento é a resposta da mente, quer seja para aprovar, rejeitar, reajustar (nunca criar).
O Pensamento é o produto da mente e o seu fluxo contínuo (já que o processamento é contínuo) cria a ilusão do “ego”, assentado nos padrões e condicionamentos apontados.
A partir de então é criado o tempo, já que o pensamento é um movimento. É nessa dimensão (tempo e espaço mental) que o pensamento se movimenta, e para isso precisa de muita energia.
É preciso que se diga, diante de tudo isso, que o que chamamos “ego”, “eu” ou “Self”, não é uno ou indivisível, mas fragmentado, posto que o pensamento e os padrões que o constituem não o são.
Considerando que mente, experiência e pensamento formam o “ego”, podemos dizer que a mente ativa equivale a vida e a inativa a morte, como já foi dito em outra parte.
Mas a mente conta a sua primeira mentira ao afirmar que ela é o eu verdadeiro, o segundo ao dizer que “ela é quem faz ou cria”, mas a pior é se colocar como o centro da existência, o que, efetivamente, não é.
Outra mentira terrível é a afirmação de que ela pode por fim ao sofrimento e, isso acarreta mais sofrimento.
Na verdade a mente é a mãe da ignorância e causa dos males subseqüentes e por isso o Buda a chamava de Mara (ilusão).

O Sofrimento e a Grande Mentira da Mente

Um fato indiscutível é que todo ser humano sofre. Há milhares de anos que este é um problema recorrente e que não se consegue resolver, ou melhor, que a mente tenta mas que não consegue solucionar.
Com sofrimento diz-se toda a dor e até a insatisfação, o sentir de incompletude que assola o ser humano, aconteça o que acontecer. A isso Buda chamou dukka.
A mente, limitada que é, responde a este estímulo com desejos e suas realizações, mas não consegue, senão promover frustração e, por conseqüência, mais sofrimento.
Sexo, drogas, consumismo exacerbado, nada disso responde a tal questão, mas, entretanto, continuamos na mesma, procurando respostas quer seja em um copo, quer seja em um carro novo ou em uma mulher\homem mais novo.
É aí que a mente conta sua grande mentira, prometendo solução para o problema que ela mesma criou.
O condicionado não pode libertar, pois também não é livre e é limitado.
Com isso, tudo o que faz é aumentar o fluxo do pensamento e tornar a mente mais confusa, em desordem e a vida mais sofrida.
Até mesmo os iogues procuram resposta na mente e, com isso, só alimentam outras ilusões, ainda que mais sutis e, aparentemente, elevadas.
Somente o desapego, a compreensão e atenção sobre a realidade podem permitir tal liberação.


O Engodo do Controle Mental

Muito se prega nas escolas que somente o silêncio mental pode permitir uma real percepção da realidade. Não se nega isso, entretanto, é preciso analisar as conseqüências disso.
Uma vez que se determina o controle da mente, quem se encarrega do procedimento de controle? A mente. Ora, pode a mente se auto-controlar.
O próprio pensamento pode fazer cessar o fluxo do pensar? Evidentemente que se cria um conflito interno que tende a gerar mais violência infligida ao sujeito.
Em primeiro lugar cria-se (na mente) uma imagem de transformação, ou seja, “o outro” que é o modelo, o “vir a ser”. Cria-se o conflito entre “o que é” e o “vir a ser”, que se torna inalcançável. É uma situação neurótica estabelecida entre a realidade e o modelo criado pela mente.
Em segundo lugar, o pensamento não pode se auto-controlar e fazer cessar o seu próprio fluxo. Esta postura que se tenta implantar, encontra forte resistência no conceito mental de que o fluxo é a própria vida e a sua interrupção implica, mentalmente, falando, na morte do “ego”? Obviamente, o instinto de sobrevivência alojado no ser haverá de opor resistência ao seu desaparecimento e é isso que efetivamente acontece. Daí, mais uma vez, caracterizada a violência interna, a frustração e a neurose que se instala, aumentando o sofrimento do ser.
Em terceiro lugar, o não original não pode instalar o original, o não criativo não pode instalar a criatividade. Considerando que a mente é voltada para o passado, para o antigo, não se concebe que possa, de uma forma natural, criativa e efetiva, estabeleça um método efetivo de cessação do fluxo de pensamento que, em síntese, é ela mesma.
Além do mais, em quarto lugar, devemos lembrar que o “ego” é fragmentado é, portanto, descontínuo, razão pela qual não se vislumbra que possa lidar com aquilo que é uno, ilimitado e perene.
Enfim, qualquer tentativa de controle implica em repressão e violência e, portanto, é ineficaz para os fins a que se destina.
Na Sarva Ioga tais métodos não são utilizados, pois a espontaneidade é da sua essência.

O Método Sarva

As perguntas que se apresentam acima é: O que pode ser feito? Algo pode ser feito? A questão é que se algo pode ser feito, não é através da mente e, menos ainda, de uma forma forçada e violenta.
Atos de repressão sobre a mente ou o corpo não oferecem qualquer resultado a não ser maior sofrimento e frustração.
Não podemos olvidar, que a Sarva Ioga se destina ao homem moderno e que vive nesse mundo caótico, em particular o sul americano e o brasileiro.
Vivemos em completa desordem quer mental quer física, o que é natural, já que o mundo que conhecemos foi construído pela mente.
Esta desordem nos apresenta estímulos de consumismo, sensualidade, glutonaria, violência e hedonismo que não podemos ignorar.
As próprias relações humanas são tratadas sob uma ótica consumista e, portanto, transitória, que fica difícil tratar de algo tão sério e profundo em face de tanta leviandade e superficialidade.
Em face disso, o sentimento de frustração, insatisfação, angústia e depressão se instalam cada vez mais na sociedade.
Eis porque se faz necessário que o primeiro passo seja o de se levar uma vida moderada, equilibrada, evitando excessos e ética e moralmente correta.
Durma por pelo menos sete horas diárias de forma regular e confortável e, de preferência na mesma hora. Procure se levantar no mesmo horário e de forma regular inicie suas atividades de forma consciente e sob atenção.
Não há como confundir a ética e moral social com a ética e moral do iogue, pois a sociedade é imoral e aética, pois foi construída pela mente concreta.
É preciso, pois, e já adentramos em uma questão mais profunda, manter a atenção, a observação, sem julgamentos, de si mesmo e do pensamento. Observe, verifique os resultados e pronto. Nada mais.
Pode-se, neste ponto, perguntar: Mas esta vivencia é possível a todos? Não seria real se não estivesse, entretanto a pergunta mais correta seria, estão todos dispostos à esta vivência? Este é o real problema.
Portanto, tais questões estão ao alcance de todos, resta saber se todos estão ao alcance disso.
O estado de meditação é inerente ao ser humano e nada tem de sobrenatural, razão pela qual não se vê razão para a criação de tantos métodos e sistemas que preconizam a dificuldade de apenas ser o que é.
Preste atenção ao fluxo de pensamentos enquanto caminha, fala, está em repouso, enfim, durante todo o tempo e observe. Haverá resultados.
Pare pelo menos dez minutos por dia, sente-se relaxado e confortavelmente, feche os olhos e apenas observe, não tente controlar nada, apenas preste muita atenção...
Procure, em todas estas circunstâncias, fazer um chamado de si (CHASI), ou seja, foco em si mesmo, esteja sempre presente em todas as suas ações.
Lembre-se que a ioga é pragmática, científica e, portanto, deve ser experienciada.
Não é conveniente que o praticante dê muita ênfase aos sucessivos estados que viver ou a imagens que se projetarem.
Práticas como a meditação dialógica foram utilizadas pelo Buda, Sócrates e, mais recentemente, Krishinamurthi. Era também utilizada pelo Swami Sarvananda em face dos membros mais avançados da Ordem dos Sarvas Swamis.

Alguns entraves Cotidianos

Algumas questões precisam ser tratadas, mesmo porque implicam em dificuldades criadas pela mente ao longo de milênios e que nos atormenta até hoje.
Entretanto, deve ser posto às claras, para que se demonstre o que tais questões representam na perspectiva da mente ou do “ego”.
  1. Idolatria
Idolatria não é o que se pensa, ou não é apenas a construção física de imagens de adoração. Aliás, está é a forma menos nociva da idolatria.
A palavra ídolo vem de idéia, ou seja, representa uma imagem construída mentalmente a qual emprestamos algum valor.
Ídolos são, portanto, qualquer construção mental que se converte em uma imagem valorada e que, por isso mesmo, torna-se um ícone impeditivo de percepção da realidade. Por isso não devemos ser obstinados ou apegados com relação a uma idéia ou pensamento. É isso que se constitui em idolatria mental, da qual a expressão física é apenas uma pálida expressão física. No mais e em regra, todos constroem e desconstroem ídolos, substituindo uns pelos outros ao longo da existência.
A auto piedade, por sua vez, é um dos piores tipos de idolatria possível.
  1. A Relação Mestre Discípulo

Outra herança deturpada e nefasta do passado. Acredita-se que uma autoridade externa possa oferecer resposta a alguém, quando só ele pode fazê-lo. Esta relação deturpada impede a auto-investigação e a tomada de decisões. Fixa a humanidade em relacionamentos infantis e baseados no apego e dependência. Perpetua, pois, o estado de sofrimento em que nos encontramos e não passa de mais uma distração.
Na Sarva Ioga nada é trabalhado desta forma. Cada um deve trabalhar sobre si e efetuar a sua investigação para obter a percepção da realidade.

  1. A Religiosidade
Toda crença, toda prática, tudo enfim, que existe neste mundo contém ilusão.
Veja bem, a Vedanta diz que existem cinco formas de se ligar a Deus: Como Pai, Mãe, Amigo, Filho ou Amante.
Sejamos francos, nisso aí contém uma dose cavalar de ilusão.
A força viva criadora e mantenedora não pode ser sua amante, mãe, pai, filho ou o que o valha, porque estes valores são deste plano.
É uma estratégia mental para atender suas necessidades.
Ramakrishna diz em seu evangelho: A mãe tem um só peixe, mas o prepara de forma diversa a fim de agradar o paladar de cada um de seus filhos, de modo que cada um pensa  que degusta coisa diferente.Não se trata, pois, de ilusão?
O que se percebe e, conforme disse o Swami Vivekananda, o deus pessoal é apenas a forma como o deus impessoal é percebido e traduzido pela mente.
Logo, ainda que sublime, trata-se de uma ilusão alimentada pela mente.
Por isso Sri Sevananda disse que até o samadhi contém ilusão. É que o samadhi, um estado de consciência elevado, impulsionado pela mente, ainda trás a base da ilusão mental. Samadhi, literalmente, quer dizer correta contemplação, mas ainda é um estado contemplativo e não inteiramente integrado.
A palavra êxtase, do original grego quer dizer “fora de si”, ou seja, fora da mente, mas ainda se apóia nela, pois ainda a situa como o si ou eu, ou seja, o centro.
Só quando não há eu ou centro vive-se de fato.
A religiosidade que hoje se pratica tem origem na era Axial e provém da Índia, Oriente Médio, China e Grécia.
Tudo se origina nos primeiros arianos, que nada tem a ver com a cor da pele, em princípio, mas com o termo ariano (aquele que tem honra), e trás em si a marca de um povo e seu orgulho. Sua etnia era diversificada, assim como os cananeus.
Eram pacíficos, mas se converteram, aos poucos, em guerreiros e saqueadores e faziam sacrifícios animais.
Os ascendentes dos hebreus cultuavam vários deuses, entre eles um chamado El, que foi substituído pelo deus guerreiro Javé, visto que os tempos eram de guerra. O culto a Javé conviveu por longo tempo com o do deus agrícola baal, até que em atitude repressiva o culto do segundo foi abandonado.
Não se negava a existência de baal ou de outros deuses, mas apenas os fixaram por nação. Baal era fenício e Javé israelita e não admitia defecções.
O amor ao próximo, na verdade se restringia a uma relação de respeito e consideração que se devia aos membros da família ou tribo, sejam sanguíneos ou em ração de pactos matrimoniais. Não tinha, pois, esse sentido profundo de amor que queremos ver hoje e menos ainda se destinava a qualquer ser humano. Entretanto, não costumavam demonstrar piedade com os estranhos. A retaliação costumava ser cruel, violenta e implacável.
Essa visão guerreira e exclusivista ainda ecoa nos recônditos de nossa psiquê.
Por mais estranho que possa parecer estas coisas andam muito distantes uma da outra.
Por isso as  seitas mais sectárias são as cristãs e que guardam uma ordem impositiva e repressiva muito grande. Fomos todos criados nisso.
Presumem que tem que se impor aos outros, que são únicos, escolhidos, que os demais vivem nas trevas etc.
Presumem a realidade absoluta de sua crença e do que interpretam. Normalmente se mostram limitados e limitativos.
Entretanto, em sentido diametralmente oposto, o Cristo era libertário (por isso foi morto), não dogmático e por várias vezes demonstrou a incompatibilidade das questões espirituais com as questões sociais, mas não foi compreendido:
Meu reino não é deste mundo.
Curiosamente pregam o amor, a liberdade e a igualdade, mas não vêem a incoerência disso com uma conduta repressiva e punitiva que não considera as crenças alheias.
O que caracteriza a estrutura religiosa é similar ao dos organismos legais.
Trata-se de um conjunto normativo organizado que mantém o órgão em questão.
Toda norma tem um comando (ordem) e uma sanção (punição) para o seu cumprimento ou, até, um benefício (sanção positiva) para o seu cumprimento.
A religião, em regra, opera, enquanto sanção com a culpa.
Lembre-se, culpa não é algo que a gente tem, mas algo que a gente sente.
Assim, trata-se de uma intromissão na psique do outro.
Entretanto, no caso da religião organizada, principalmente as que se dizem Cristãs, é interessante que você seja, sempre, um infrator.
Um infrator sente culpa e quem sente culpa não é livre e teme a punição. Quem teme a punição quer ser salvo e quem quer ser salvo, precisa de um salvador ou intercessor e aí entram as Igrejas como as grandes intercessoras no processo de salvação.

Entretanto, se não sinto culpa, e não preciso de salvação, sou livre e independente.
O efeito de tais regras na mente resulta em uma estrutura de agrilhoamento e dependência mental que dificultam a liberdade de ação, pois a formação de imagens e ídolos impede o contato com o que realmente é.
Ou é repressiva ou se converte em distração, entretenimento da mente, evitando-se a busca do real.
A Linguagem e o Diálogo

Duas coisas foram fundamentais na formação da personalidade, ou ego como o conhecemos: a) o instituto da propriedade privada; b) a linguagem.
O homem moderno, já dizia Lacan é formado pela linguagem, ou seja, em função dos relacionamentos que se estabelecem pela comunicação.
A palavra, objeto da comunicação, mas não o único, é um significante ao qual atribuímos significado e, este último, é obrado pela mente.
 Se a mente produz o pensamento e este se faz pela obra mental através da linguagem, isto significa que a observação do fluxo via diálogo pode ser eficaz para a percepção da realidade.
Os participantes do diálogo podem conduzir-se através de um tema previamente escolhido e manter, concomitantemente, a atenção e prática do CHASI.
Sócrates se utilizava do diálogo, Krishnamurthi também. O Buda conduziu um diálogo com um homem importante que achava que o “eu” era o mais importante e através deste ponto a visão daquele homem se abriu para o real.
O Swami Sarvananda, uma vez, conduziu um diálogo com o autor deste texto que foi, para ele, uma verdadeira iniciação. Depois deste primeiro diálogo, muitos outros se seguiram, configurando-se em verdadeira meditação conjunta conduzida pelo Swami.
Este é sem dúvida um meio alcançável a todos e que os Sarvas se valem e podem se valer de forma eficaz.



A Ordem dos Sarva Swamis
A Ordem dos Sarva Swamis foi fundada no dia 02 de agosto de 1954 pelo seu primeiro acharya, Sri Sevananda Swami,  e co-fundadores o Swami Sarvananda e Swamini Sadhana.
Embora com este nome Ordem, ela o é, muito mais no sentido oriental, de uma confraria de monges, apolíticos, sem fins lucrativos e sem caráter religioso, que os reúne a fim de preservar, dinamizar, adaptar, transmitir e viver os princípios que foram de forma muito simples e limitada expressas no texto.
Embora exista uma acharya, um árbitro, por assim dizer, não existe uma relação de subordinação entre os seus membros.
Todos são respeitados naquilo que vivem ou lhes é dado viver.
A sangha (confraria), não faz serviço externo, prestação de  serviços ou obras sociais, sua única razão de existir a busca do que se convencionou chamar de realização espiritual, ou extinção de dukka, compreensão do real, extinção da roda de samsara, etc.
Mas o real, somente a vivência individual o revela.
Os sarva swamis para sua admissão como tal, por tudo que foi dito, entre outras coisas, devem se despojar da obstinação ideológica (real desapego) e ter vivido, pelo menos um dos tipos básicos de vivência transcendental, que é a verdadeira iniciação: samadhi ioguico, satori (zen), transe devocional estático, iluminação supramental, CHASI pleno. A reiterabilidade é essencial.
Além disso, o compromisso de servir a confraria e viver, internamente como um monge, ou seja, alguém voltado para a compreensão e estabelecimento do Real.
Nem todos nasceram para ser swamis, mas nem por isso estão alijados da realização, cada um com sua forma de se encontrar.
A Sarva Ioga não é só para os swamis, mas para todo aquele que se encontra cansado de ilusões, angústias e quer, sem rodeios, uma prática franca, sincera e objetiva.
Os sarva iogues, como os antigos budistas, não tem uma vida reclusa, vivem em qualquer urbe ou no campo, sem problemas, conforme sua aptidão e não se mostram adeptos do asceticismo e das praticas alienantes que deixam o homem estados extáticos ou em transes prolongados, mas permanecem em meditação consciente e em perene estado de atenção.


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