sábado, 19 de janeiro de 2013

José de Arimatéia: Um Exemplo Positivo de Juiz Bíblico


JOSÉ DE ARIMATÉIA: UM EXEMPLO POSITIVO DE JUIZ BÍBLICO


Curiosamente os exemplos negativos fazem mais sucesso do que os exemplos positivos. Quando tomamos conhecimento de alguma referência aos magistrados da antiguidade, especialmente aqueles juízes citados na bíblia sagrada, sempre vêm à baila a conduta  de Poncio Pilatos que lavou as mãos e declinou da jurisdição, mesmo entendendo que aquele que estava sob seu julgamento não era culpado.
Mesmo juízes ou magistrados, em seus pronunciamentos, fazem tal referência, firmando o compromisso de serem íntegros e imparciais, mas nunca omissos ou covardes como Pilatos.
A despeito disso, é de se questionar até onde pode se atribuir de infame, omisso ou covarde a conduta de Pilatos, ou se esta seria a conduta de um juiz democrata.
Entretanto, como participante do episódio da morte de Jesus, não é comum que se faça referência à digna figura de José de Arimatéia.
Antes de adentrarmos na questão fundamental deste artigo, convém lembrar que Arimatéia era membro do mesmo Sinédrio que perseguiu e obteve a crucificação de Jesus.
O Sinédrio, para os que o desconhecem, era o gestor e tribunal eclesiástico entre os judeus. Era composto por setenta e um membros, incluindo o seu presidente, uma referência, segundo alguns aos setenta anciãos da era mosaica.
O Sinédrio, ou Sinhedrin, tinha competência para julgar questões religiosas, jurídicas e administrativas, podendo aplicar a pena de morte, mas submetia-se, neste caso, a rubrica do procurador geral, na época, Poncio Pilatos.
Entre os Hebreus, o sistema era teocrático, razão pela qual um tribunal eclesiástico era também um tribunal jurídico.
Assim, é fácil concluir que José de Arimatéia era um juiz, visto que no evangelho de Marcos é referido como “ilustre membro do Sinédrio”.
Marcos afirma que José de Arimatéia não concordava com o que faziam seus pares.
É importante ressaltar que os evangelistas também o distinguem como um homem rico, amigo e discípulo de Jesus.
Pela análise dos quatro evangelhos, verifica-se que José de Arimatéia era um magistrado ilustre e rico, mas que não permanecia encastelado em sua dogmática, visto que ousou procurar respostas fora de seu círculo, buscando o saber e a amizade de um líder não dogmático e popular (Jesus), que era repudiado pela nata da sociedade judaica, inclusive seus pares.
O Livro Harpas Eternas, obra publicada em quatro volumes, atribuída aos dotes mediúnicos de Josefa Rosalia Luque Alvaréz, cuja entidade autora se identifica Hilarion de Monte Nebo, José de Arimatéia é apresentado, inicialmente, como um jovem doutor da lei, junto com Nicodemos, que acompanham o Nazareno desde o nascimento, até a sua morte no madeiro.
Segundo esta obra, os dois seriam os responsáveis, com riso da própria vida e carreira, pela fuga da sagrada família, conduzindo-os para o Monte Hermon, longe das garras de Herodes.
Teriam espalhado um boato sobre a fuga para o Egito, a fim de distrair possíveis perseguidores[1] .
Na obra mencionada, ainda, temos ciência de seu trabalho em favor de uma vida mais justa e melhor em favor dos menos afortunados, esquecidos e, até mesmo, excluídos, pela severa lei mosaica.
Na obra seqüente deste mesmo autor, “Cumes e Planícies”, José de Arimatéia aparece como protetor e provedor da mãe do Nazareno e outras mulheres que o seguiam, inclusive Maria de Magdala, após a morte de Jesus[2].
Esta obra relata o início da missão dos apóstolos, que reunidos em torno de Maria (ou Miriam), mãe de Jesus (Joshua), decidem cumprir a missão e se espalhar, pregando o evangelho por toda a terra.
Ora, se José de Arimatéia era amigo de Jesus, conhecia seus discípulos e era um deles, é porque tinha convivência com membros do povo e fazia igual a eles, ainda que de forma discreta e sem negligenciar suas funções.
Parece, portanto, que era amigo de Nicodemos, também membro do Sinédrio e que, segundo o “Evangelho de João”, procurou respostas, ele também, junto ao Nazareno e deve ter se tornado seu amigo, posto que presente no seu funeral, a quem ajudou, inclusive a preparar o corpo.
A força de José de Arimatéia, assim como a de Nicodemos, enquanto exemplo, reside na aproximação, já naquela época, do povo e dos movimentos populares, buscando um senso de justiça mais pragmático e menos dogmático, sem saber, talvez, que lançavam, ali, a semente de um Judiciário mais democrático.
 É interessante ressaltar que em um mundo conturbado e diante de uma norma jurídico-teológica rígida, surja  a figura de um juiz que faz uma aproximação popular, considerando a sua cultura, arte e tradição, em um verdadeiro exercício prático discursivo democrático, aos moldes que só seriam defendidos pro Hans-Georg Gadamer em “Verdade e Método”[3], bem como pelos defensores do agir comunicativo e de uma filosofia social do direito, tal como Jürgen Habermas[4].
Mas José de Arimatéia não se restringiu a isso. Foi além, discordou do que faziam seus pares, opôs-se a injustiça que tramavam e, não conseguindo impedi-la, em um gesto de coragem ímpar, compareceu perante o governador romano e reivindicou o corpo de Jesus.
Segundo algumas fontes, depois da morte de Jesus, passou anos preso por sua simpatia à doutrina cristã, mas foi libertado pelo sucessor de Pôncius Pilatos, mas disso não se tem confirmação.
Certo é que, ao adentrar ao palácio do procurador geral, quebrou uma norma de não ter contato com gentios nas vésperas da Páscoa, o que pode ter contribuído para a sua prisão.
Além do mais é figura lendária no que diz respeito à lenda do Santo Graal e dos cavaleiros do Rei Artur. Inclusive se diz que o personagem identificado como Merlin seria seu descendente, todavia, são lendas e como tal não podem ser confirmadas, assim como a afirmação de que seria o fundador da primeira Igreja na Bretanha.
Mas o que nos importa é que José era um magistrado e Jesus um réu condenado à pena mais cruel e infamante, como inimigo de Roma, a maior potência e força de dominação daquela época.
Ainda assim, aquele homem justo e destemido, compareceu perante o representante de Roma e reclamou o corpo daquele homem executado injustamente e, sem temor de represálias, levou, junto com seu amigo e as pobres mulheres que seguiam o Nazareno, seu corpo para ser sepultado no sepulcro da sua família, recusando-se, por conseguinte, a reconhecê-lo como um criminoso.
Talvez hoje não tenhamos a dimensão da grandeza do gesto daquele homem, mas certamente deve ser o maior exemplo positivo de honradez, interação e intrepidez de um juiz que se tem notícia na antiguidade e nos evangelhos.
Com certeza, está estampado ali o paradigma de um juiz justo, democrático, que sabe interagir com a população e, por isso mesmo, capaz de fazer uma fusão de horizontes entre o direito posto e as aspirações da sociedade, criando uma pretensão de correção que se baseia no ideal de justiça e não da acomodação, conveniência, ou mesmo da legalidade extrema e fria.

BIBLIOGRAFIA:
ALVAREZ, Josefa Rosália Luque. Harpas Eternas, vol. I. 1ª Edição. Editora Pensamento. Rio de Janeiro: 1996.
ALVAREZ, Josefa Rosália Luque. Cumes e Planícies, os amigos de Jesus vol. I. 1ª Edição. Editora Pensamento-Cultrix. Rio de Janeiro: 1995.
BÍBLIA SAGRADA-EDIÇÃO PASTORAL. 42ª Edição. Editora Paulus. São Paulo: 1996
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método, traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica, vol. I. Trad. Flavio Paulo Meurer e Enio Paulo Giachini. 10ª Edição. Editora Vozes. Petrópolis: 2008. 
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia, entre a validade e facticidade, vol. I. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. 2ª Edição. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: 2003.



[1] ALVARÉZ, Josefa Rosália Luque. Harpas Eternas. Editora Pensamento. Volume I.
[2] ALVARÉZ, Josefa Rosália Luque. Cumes e Planícies. Editora Pensamento. Volume I.
[3] GADAMER, Verdade e Método, volume I.
[4] HABERMAS, Jürgen Habermas. Direito e Democracia, Entre a Validade e Facticidade, vol. I.

2 comentários:

  1. Que todos os juizes possam seguir o exemplo de José de Arimatéia! Antes de qualquer decisão, que tenham entendimento de si mesmo, do povo e da própria função jurídica que exercem.

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  2. Obrigado por seu comentário. Espero que saiba que ele é muito próximo de nós.

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