sábado, 19 de janeiro de 2013

Martinismo e Martinesismo


O MARTINISMO E O MARTINESISMO


Martinez ou Martinês de Pasqualy era praticante a teurgia e a entendia necessário para que se operasse a reintegração dos seres no seio do Pai.
Para Pasqualy, a única forma de reintegração se dava através da invocação dos anjos e seres celestiais. A sua via se baseava, portanto, no relacionamento humano com as hierarquias angélicas.
Com a sua morte, alguns de seus discípulos prosseguiram nesta trilha, que pode ser chamada de “Martinesismo”.
O Martinesismo, palavra originada de “Martinez” ou “Martinês”, nome de origem ibérica, designa a via de Pasqualy, ou seja, a teurgia, que inclui a magia, bem como a invocação dos seres.
Entretanto, um de seus discípulos, Louis Claude de Saint-Martin, de profunda formação místico-devocional, muito religioso, entendia que a teurgia era extremamente perigosa e preferia uma prática mais cardíaca e devocional.
Saint-Martin, portanto, preferia a evocação à invocação, dedicando-se a buscar a reintegração em face da via cardíaca devocional, permeada pelo estudo intelectual racional, a fim de que houvesse equilíbrio entre a devoção e a razão, ou seja, uma fusão entre as duas vias, como um prenúncio da mente abstrata que, paulatinamente, vai sendo instalada no fim de uma era e começo de outra.
Certo é, que de Saint-Martin nasce a via Martinista, que não se confunde com a via Martinesista.
O Martinismo é uma via cardíaca, devocional e operacional (ação desinteressada, mas permeada pelo amor ao próximo e a Deus), equilibrada pela prática intelectual/racional, que visa a reintegração pelas virtudes cristãs, tão propaladas mas pouco vividas e que constam do “Sermão da Montanha”.
Pode ser dito que Saint-Martin pretendia entrar no coração da Divindade e permitir que ela entrasse no seu, ou seja, nada forçado ou antinatural.
Quando se quer dizer que o Martinismo estuda as leis da natureza e as segue, quer, exatamente, com isso dizer, que o homem deve seguir naturalmente rumo à Divindade, sem forçar sua entrada nos planos superiores ou tentar “arrastar” os planos superiores para esta esfera.
  As leis da natureza referidas no Martinismo, são as leis da natureza humana, essencialmente divinatória e que, portanto, deve retornar ao Pai, pelo despertar natural de sua essência (natureza).
Para tanto, desenvolve-se a devoção e um intelecto sintético, claro e límpido, para dar suporte à sua operacionalidade cotidiana, mantendo-o com os pés no chão, sem ilusões ou devaneios. Assim, é levado a trilha da reintegração por uma via espontânea[1] ou natural, sem magia o magicismo, rituais invocatórios, etc..
Pode-se dizer, também, que a teurgia é uma via “externa”, enquanto a via Martinista autêntica é uma via “interna”.
Vale dizer, enquanto a primeira invoca os seres angelicais, para que estes elevem o homem e o transformem e sejam, posteriormente, reintegrados, o Martinismo, pela devoção, ORAÇÃO, desenvolvimento intelectual e operacionalidade, pretendia promover uma mudança interna, para que o homem, pelo merecimento, pudesse ser elevado e reintegrado.
Papus, nome espiritual do Dr. Gerard Encausse, e Augustin Chaboseou, dois iniciados na Via Martinista (até então não existia uma Ordem Martinista), depositários deste conhecimento decidiram fundar a Ordem Martinista.
Não nos interessa, aqui, fazer um histórico da Ordem Martinista, o que pode ser encontrado em livros, cujos autores o fizeram muito melhor do que faríamos, mas, sim,  uma análise das questões postas acima.
Papus e Chaboseou, quando fundaram a Ordem Martinista, pretendiam preservar e transmitir a via herdada de Saint-Martin.
Não se pode olvidar, também, que Papus tinha como seu Mestre o Senhor Nizier Anthelme Phillippe, taumaturgo, homem de Deus, que curava sem o emprego de outros meios além do apoio Divino e do “amigo”, como ele designava o Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mestre Phillippe, como era e segue sendo chamado pelos seus seguidores, apoiava o Dr. Encausse e a Ordem Martinista, sendo que muitos outros de seus discípulos pertenciam a Ordem Martinista, inclusive o seu genro o Dr. Lalande e o muito conhecido Sedir, iniciador e Albert Raymond Costet de Macheville (Visconde de Macheville), também seguidor do Mestre Phillippe e precursor do Martinismo e da Ordem Martinista na América do Sul e no Brasil, juntamente com seu filho Leo Costet de Macheville, mais conhecido entre nós como Sri Sevananda Swami.
Não faz sentido, sem adentrar no aspecto da grandeza de todos estes vultos, que o Mestre do fundador e demais membros da Ordem Martinista, apoiasse uma iniciativa de seus discípulos, contrária á via do qual era (e continua sendo) representante neste plano.
Evidentemente, a Ordem Martinista de Papus, que foi o seu primeiro Grão Mestre, e de Chaboseau (sucessor de Papus no Grão Mestrado) só podia ter sido fundada em torno da via introduzida por Saint-Martin e, portanto, preservadora e predicara da via cardíaca.
A via Martinista é, portanto, cardíaca.
Não existe, aqui, nenhuma repulsa à via teúrgica, essencialmente mental, mas tão somente quer demonstrar que o Martinismo puro é cardíaco, difusor de uma via interna, operacional e intelectual nos termos acima.
Qualquer tentativa de apresentar o Martinismo como via teúrgica, invocatória e com prática de magia ritual, está em desacordo com esta via e se constitui em deturpação e violação destes princípios.



Swami Satyananda





[1] Daí a importância dada por Sri Sevanãnda Swami e os que o sucederam na espontaneidade como elemento essencial da via Sarva.

2 comentários:

  1. Muito agradecido pelo esclarecimento sobre as duas vertentes.

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  2. Muito feliz de ter encontrado esse esclarecimento. Muito obrigado mesmo!

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