O
MARTINISMO E O MARTINESISMO
Martinez ou Martinês de Pasqualy era praticante a teurgia
e a entendia necessário para que se operasse a reintegração dos seres no seio
do Pai.
Para Pasqualy, a única forma de reintegração se dava
através da invocação dos anjos e seres celestiais. A sua via se baseava,
portanto, no relacionamento humano com as hierarquias angélicas.
Com a sua morte, alguns de seus discípulos prosseguiram
nesta trilha, que pode ser chamada de “Martinesismo”.
O Martinesismo, palavra originada de “Martinez” ou
“Martinês”, nome de origem ibérica, designa a via de Pasqualy, ou seja, a
teurgia, que inclui a magia, bem como a invocação dos seres.
Entretanto, um de seus discípulos, Louis Claude de
Saint-Martin, de profunda formação místico-devocional, muito religioso,
entendia que a teurgia era extremamente perigosa e preferia uma prática mais
cardíaca e devocional.
Saint-Martin, portanto, preferia a evocação à invocação,
dedicando-se a buscar a reintegração em face da via cardíaca devocional,
permeada pelo estudo intelectual racional, a fim de que houvesse equilíbrio
entre a devoção e a razão, ou seja, uma fusão entre as duas vias, como um
prenúncio da mente abstrata que, paulatinamente, vai sendo instalada no fim de
uma era e começo de outra.
Certo é, que de Saint-Martin nasce a via Martinista, que
não se confunde com a via Martinesista.
O Martinismo é uma via cardíaca, devocional e operacional
(ação desinteressada, mas permeada pelo amor ao próximo e a Deus), equilibrada
pela prática intelectual/racional, que visa a reintegração pelas virtudes
cristãs, tão propaladas mas pouco vividas e que constam do “Sermão da
Montanha”.
Pode
ser dito que Saint-Martin pretendia entrar no coração da Divindade e permitir
que ela entrasse no seu, ou seja, nada forçado ou antinatural.
Quando
se quer dizer que o Martinismo estuda as leis da natureza e as segue, quer,
exatamente, com isso dizer, que o homem deve seguir naturalmente rumo à
Divindade, sem forçar sua entrada nos planos superiores ou tentar “arrastar” os
planos superiores para esta esfera.
As leis da natureza referidas no Martinismo,
são as leis da natureza humana, essencialmente divinatória e que, portanto,
deve retornar ao Pai, pelo despertar natural de sua essência (natureza).
Para
tanto, desenvolve-se a devoção e um intelecto sintético, claro e límpido, para
dar suporte à sua operacionalidade cotidiana, mantendo-o com os pés no chão,
sem ilusões ou devaneios. Assim, é levado a trilha da reintegração por uma via
espontânea[1]
ou natural, sem magia o magicismo, rituais invocatórios, etc..
Pode-se
dizer, também, que a teurgia é uma via “externa”, enquanto a via Martinista
autêntica é uma via “interna”.
Vale
dizer, enquanto a primeira invoca os seres angelicais, para que estes elevem o
homem e o transformem e sejam, posteriormente, reintegrados, o Martinismo, pela
devoção, ORAÇÃO, desenvolvimento intelectual e operacionalidade, pretendia
promover uma mudança interna, para que o homem, pelo merecimento, pudesse ser
elevado e reintegrado.
Papus,
nome espiritual do Dr. Gerard Encausse, e Augustin Chaboseou, dois iniciados na
Via Martinista (até então não existia uma Ordem Martinista), depositários deste
conhecimento decidiram fundar a Ordem Martinista.
Não
nos interessa, aqui, fazer um histórico da Ordem Martinista, o que pode ser
encontrado em livros, cujos autores o fizeram muito melhor do que faríamos,
mas, sim, uma análise das questões
postas acima.
Papus
e Chaboseou, quando fundaram a Ordem Martinista, pretendiam preservar e
transmitir a via herdada de Saint-Martin.
Não
se pode olvidar, também, que Papus tinha como seu Mestre o Senhor Nizier
Anthelme Phillippe, taumaturgo, homem de Deus, que curava sem o emprego de
outros meios além do apoio Divino e do “amigo”, como ele designava o Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Mestre
Phillippe, como era e segue sendo chamado pelos seus seguidores, apoiava o Dr.
Encausse e a Ordem Martinista, sendo que muitos outros de seus discípulos
pertenciam a Ordem Martinista, inclusive o seu genro o Dr. Lalande e o muito
conhecido Sedir, iniciador e Albert Raymond Costet de Macheville (Visconde de
Macheville), também seguidor do Mestre Phillippe e precursor do Martinismo e da
Ordem Martinista na América do Sul e no Brasil, juntamente com seu filho Leo
Costet de Macheville, mais conhecido entre nós como Sri Sevananda Swami.
Não
faz sentido, sem adentrar no aspecto da grandeza de todos estes vultos, que o
Mestre do fundador e demais membros da Ordem Martinista, apoiasse uma
iniciativa de seus discípulos, contrária á via do qual era (e continua sendo)
representante neste plano.
Evidentemente,
a Ordem Martinista de Papus, que foi o seu primeiro Grão Mestre, e de Chaboseau
(sucessor de Papus no Grão Mestrado) só podia ter sido fundada em torno da via
introduzida por Saint-Martin e, portanto, preservadora e predicara da via
cardíaca.
A
via Martinista é, portanto, cardíaca.
Não
existe, aqui, nenhuma repulsa à via teúrgica, essencialmente mental, mas tão
somente quer demonstrar que o Martinismo puro é cardíaco, difusor de uma via
interna, operacional e intelectual nos termos acima.
Qualquer
tentativa de apresentar o Martinismo como via teúrgica, invocatória e com
prática de magia ritual, está em desacordo com esta via e se constitui em
deturpação e violação destes princípios.
Swami
Satyananda
[1]
Daí a importância dada por Sri Sevanãnda Swami e os que o sucederam na
espontaneidade como elemento essencial da via Sarva.
Muito agradecido pelo esclarecimento sobre as duas vertentes.
ResponderExcluirMuito feliz de ter encontrado esse esclarecimento. Muito obrigado mesmo!
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